Miguel Torga num miradouro, a olhar para o rio Douro, escreveu que “não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso da natureza”. A frase aplica-se por inteiro quando o rio percorre a primeira centena de quilómetros em Portugal.

Pelo meio de arribas escarpadas, com dezenas de metros de altura, onde o homem não se intromete.

O Douro em S. João das Arribas
O Douro em S. João das Arribas

Este é o universo das aves. Margarida Telo Ramos, engenheira florestal e que trabalhou no Parque Natural do Douro Internacional, conhece bem as particularidades deste ecossistema e sublinha que a avifauna é o que é mais emblemático no Parque.

Picote - Fraga do Puio
Picote – Fraga do Puio

Ainda nas palavras de Margarida Telo Ramos o vale é muito encaixado e cria as condições adequadas para muitas aves escolherem as rochas para ninhos. As escarpas funcionam como proteção do homem para muitas espécies que ali nidificam como por exemplo águias, abutres e cegonha preta.

Britango ©ATN
Britango ©ATN

Uma dessas aves, a abutre do Egipto ou britango, é o símbolo do Parque Natural do Douro Internacional. É uma das várias espécies ameaçadas e que também divide o seu tempo entre o Douro e África.
Entre Setembro e Janeiro vão para África. Em Fevereiro regressam, criam os filhos e em Setembro é um novo ciclo. É por este motivo que Margarida Telo Ramos recomenda a visita entre Fevereiro e Setembro. “Há mais biodiversidade e também é mais interessante em termos de clima.”
O deslumbramento não é apenas com as aves. O “excesso de natureza”, que falava Miguel Torga, esmaga com a paisagem do canhão do rio.

Barragem de Picote vista da varanda da Pousada
Barragem de Picote vista da varanda da Pousada

Paradela, São João das Arribas, Picote e Bemposta são alguns dos miradouros “assustadoramente” belos. O rio corre sereno entre as escarpas de granito e a beleza pode ser contemplada em miradouros improvisados, ao lado de capelas ou com estruturas montadas para esse efeito como em Picote para a Fraga do Puio.

Miradouro de ParadelaO parque tem uma extensão de 120 km, acompanha o rio Douro para Sul, para a Terra Quente Transmontana e as escarpas vão dando lugar aos sucalcos do Douro Vinhateiro.

siteg_paradela_penha_torre_7599O Parque começa no Norte do concelho de Miranda do Douro, passa por Mogadouro, Freixo-de-Espada-à-Cinta e termina no município de Figueira de Castelo Rodrigo.

Burro MirandêsNo norte, na zona do planalto, encontramos ainda o burro mirandês que faz parte de um território dominado pela agricultura e pecuária. Margarida Telo Ramos conhece bem a flora das aldeias do Parque, porque fez um levantamento das espécies utilizadas pelo Homem na Terra de Miranda e adianta que os terrenos mais férteis são os que estão mais próximos do Douro.

Picote
Picote

Há pequenas povoações dispersas. A densidade populacional é muito baixa. Em toda a área do parque residem pouco mais de 13 mil pessoas.

Paradela
Paradela

No entanto, é muito rico o património histórico e cultural. Rapidamente podemos enunciar alguns como o Mirandês, os Pauliteiros de Miranda, as Festas de Inverno com os mascarados e as igrejas que aspiravam a ser Sé.

Igreja de Freixo de Espada à Cinta
Igreja de Freixo de Espada à Cinta

Para além de tudo isto, há sempre o sorriso, a enorme simpatia do povo transmontano e o orgulho na sua cultura.

Miradouro Penedo Durão em Freixo de Espada à Cinta
Miradouro Penedo Durão em Freixo de Espada à Cinta

O Douro Internacional é mais bonito que o rio que corre pela minha aldeia faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

Comments

No comments yet. Why don’t you start the discussion?

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *