O traço, as cores, a textura, a estética que marcou a nossa identidade nacional pode ser percecionada mais facilmente através das artes e o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) é o local por excelência para essa descoberta.
Ganhou esse estatuto porque foi criado no final do século XIX exatamente com esse propósito. A então Real Academia de Belas Artes iniciou o processo de recolha de obras de arte em instituições fundacionais de Portugal.
Foi uma iniciativa determinante para a salvaguarda de numeroso património que estava em risco de desaparecer, sair de Portugal e dispersar coleções relevantes de obra de arte que levaram séculos a recolher.
É neste quadro que o MNAA desempenhou até aos dias de hoje uma função fundamental porque “é essencialmente um repositório das instituições portuguesas desde os séculos XIII, XIV até ao século XIX. De conventos, da instituição régia, de um conjunto de instituições que fizeram compras, encomendas”.
Ainda nas palavras de Joaquim Oliveira Caetano, diretor do museu, parte substancial dessas obras estão no MNAA. “É, por isso, não só uma coleção de obras fundamentais mas também uma coleção de obras que têm diretamente a ver com a História e com o que fomos tendo ao longo de mais de oito séculos.”
A extinção das Ordens Religiosas, em 1834 tornou urgente a recolha e salvaguarda deste património. Por exemplo, Alexandre Herculano percorreu muitos destes lugares e conseguiu recolher material que foi enviado para a Torre do Tombo. No caso de pinturas, esculturas e outras formas de arte essa iniciativa foi essencialmente da Academia Real de Belas Artes.
Além da recolha desse material, “somam-se as compras realizadas pela própria Academia e depois, em 1910, junta-se uma grande parte dos bens das coleções reais portuguesas.
Tudo isto, somado às compras que o Museu fez ao longo dos 150 anos, permite reunir as obras fundamentais da cultura material e visual portuguesa desde a Idade Média até ao início do século XIX”, garante Joaquim Oliveira Caetano.
Este é um dos motivos porque o acervo do MNAA é magnifico.
Nos três pisos do palácio dos Condes de Alvor, em Lisboa, encontramos alguns dos tesouros nacionais. Peças fabulosas que trazem a Portugal visitantes de propósito para as ver. De certa forma, é também o fecho do ciclo da expansão portuguesa. “Temos uma grande coleção de arte quase toda feita de importação que vai desde África do século XV até à India, Japão e China, fruto essencialmente desse encontro dos portugueses com povos de todo o Mundo. Isto acontece tanto para a arte oriental e africana, como também para a europeia.
Parte das peças que temos resulta dos contacto feitos com Espanha, França, Itália, Flandres, Holanda… Neste sentido, a coleção do Museu cumpre uma dupla função: a beleza e a informação histórica das peças de arte e também nos informa sobre quais foram os contactos que os portugueses foram tendo.
Por outro lado, como a arte portuguesa não está muito representada em museus internacionais, a descoberta é feita essencialmente em museus portugueses como o MNAA. Há muitas obras de arte no MNAAA que interessam à generalidade das pessoas.
Como saliente o diretor do museu , há “obras primas que levam o visitante de propósito a vir a Portugal para ver o tríptico de Bosch, As tentações de Santo Antão, o Santo Agostinho de Piero della Francesca e outras obras maiores”.
Uma outra coleção muito particular nas relações de Portugal com o Japão é a coleção de biombos namban. “Os biombos japoneses retratam do ponto de vista local e de uma forma quase caricatural, a chegada dos portugueses, a forma como eles nos viram.
Essas obras, que são peças de uma extraordinária importância e beleza, fazem com que muitos japoneses venham à Europa para ver essa coleção, que é, de facto, notável.”
Os biombos namban são, de facto, surpreendentes, como é igualmente fabuloso o tríptico de Bosch, as Tentações de Santo Antão e muitas outras obras como o retrato de D. Sebastião e os Painéis de S. Vicente, de Nuno Gonçalves, que fazem parte do nosso imaginário coletivo. Do mesmo modo podemos destacar a forte influência da pintura flamenga. “Temos uma fantástica coleção de pintura flamenga dos séculos XV e XVI. Essa pintura foi encomendada nos séculos XV e XVI quando tivemos uma relação comercial muito forte com a Flandres. Foi encomendada por reis, príncipes e doações aos conventos portugueses. É através dos conventos que essas obras vão entrar no Museu Nacional de Arte Antiga.
Por isso, são objetos que, além de serem obras de arte de primeira grandeza, trazem consigo a história da sua encomenda, do seu uso e transformação ao longo de séculos e que tem diretamente a ver com a nossa história.”
O acervo é muito variado. Podemos ver outas coleções de escultura, mobiliário, ourivesaria e artes têxteis.
A outra “coleção” é paisagística, espontânea e também associada à nossa identidade. Dos jardins do Museu, repletos de cores e jacarandás, contemplamos serenamente o rio Tejo por onde navegaram outras das nossas maiores artes.
Os tesouros da arte portuguesa no Museu Nacional de Arte Antiga faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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