Águas é uma pequena aldeia do concelho de Penamacor e o seu nome tem origem nas termas da Fonte Santa.
O espaço termal fica a meio quilómetro da povoação e, conforme ficou registado no século XVII, a nascente é de um olho de água com sabor a enxofre.
As termas são recomendadas para problemas respiratórios.
A principal atividade de Águas é a agricultura mas a aldeia sofre do mesmo problema das outras localidades do interior: o envelhecimento e a desertificação.
No último Censos, Águas tinha cerca de 300 habitantes.
Parte do casario está renovado mas muitas das casas estão fechadas.
Algumas são grandes, de granito e com jardins interiores. São as casas dos proprietários das terras, com algum poder económico.
É exemplo a casa Megre que numa parede exterior tem uma homenagem a José Megre, o piloto e viajante aventureiro, natural de Águas, que faleceu em 2009.
Esta área é a mais interessante. Aqui está a Capela do Espírito Santo e, não muito longe, o chafariz.
Ao lado, o mais relevante e que, só por si, justifica uma visita: a igreja Nossa Senhora de Fátima, obra do arquiteto Nuno Teotónio Pereira, cuja biografia se confunde com a da história da arquitectura portuguesa da segunda metade do século XX, citando a Visão.
A construção da igreja teve lugar entre 1949 e 1953.
É um marco na arquitectura religiosa em Portugal e influenciou muito a arquitectura portuguesa do séc. XX.
O próprio Nuno Teotónio Pereira explica o que pretendia: Quando se verifica, na maior parte das igrejas mais recentes, ter sido esquecido o espírito do Evangelho, (…) impõe-se uma ação de esclarecimento e uma revisão de conceitos, para que a arquitetura possa mostrar ao mundo de hoje a verdadeira face da Igreja de Cristo.
Citando ainda o site do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, o resultado é um espírito de Pureza, Verdade, Pobreza e Paz.
A igreja tem uma arquitetura completamente inovadora e numa zona rural causava estranheza. Segundo diz António Pires Salvado, que acompanhou a obra com o pai que era o principal artista de esculpir a pedra da igreja, quando os populares perguntavam o que estavam a construir, respondiam que era um cinema. Até comparavam com o cinema de Santos, em Lisboa. O trabalho foi complexo e demorado.
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A igreja é também motivo de orgulho dos habitantes da aldeia que, com um sorriso nada tímido, afirmam que sim, a igreja é muito bonita e visitada até por gente de fora.
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A igreja é, de facto, muito diferente e ao mesmo tempo muito simples.
Os materiais mais utilizados são o granito e a madeira.
A luminosidade natural é suave e as fontes de luz espalham-se pelo interior, o que evita a necessidade de luz artificial.
A pia é enorme, com uma forma singular. A disposição dos santos encontra-se numa das alas, alinhados com janelas que dão uma luz natural ténue e permite o refúgio e a oração discreta dos crentes.
Igualmente singular é o campanário.
Uma elevada torre separada da igreja.
A escadaria entre as duas colunas marca uma linha ascendente…
Águas fica a cerca de 10km de Penamacor.
Durante séculos foi um lugar de passagem, mas as estradas da “modernidade” passam ao lado.
Para se visitar de carro, tem de se fazer um desvio na Aldeia do Bispo.
Há também uma estrada, mais rudimentar, que liga à Bemposta.
A bonita e precursora igreja das Águas faz parte do podcast semanal da Antena1 Vou Ali e Já Venho e pode ouvir aqui.
A emissão deste episódio, A bonita e precursora igreja das Águas, pode ouvir aqui.
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