O nome Titicaca terá a ver com pedra do puma mas não há etimologia que o prove.
Várias comunidades peruanas e bolivianas vivem próximo do lago.
Na Bolívia, a localidade mais conhecida é Copacabana.
No Peru, o principal centro urbano é Punos e talvez o lugar mais turístico seja a ilha de Uros.
Muitos turistas atravessam a fronteira e visitam os dois grandes lagos que constituem o Titicaca.
Estive em Puno por duas vezes.
A primeira, proveniente de Cusco no Andean Explorer . A segunda, cerca de uma semana depois, quando regressei da Bolívia.
Em ambas as paragens fiquei no Mirador del Titikaka Hotel a 4 mil metros de altitude, mesmo ao lado das antenas de comunicação!
Na verdade, apesar do problema da altitude, o Mirador também tem virtudes. E muitas.
Em primeiro lugar, o gerente, Jorge, é sensacional. Ajuda, preocupa-se com o bem estar dos hóspedes, faz sugestões sobre roteiros e procura sempre dar alternativas com preços mais económicos. 5 estrelas.
Por outro lado, não é todos os dias que se acorda e, da imensa janela panorâmica do quarto, vê-se a cidade de Puno e o lago Titicaca.
Do exterior do hotel, a vista é de facto como se estivéssemos num miradouro. Deslumbrante. São muitos os hóspedes que aproveitam esta paisagem, uma cadeira, um chá, cigarro, máquina fotográfica, um livro… e contempla-se. É para relaxar.
São também momentos para se trocarem experiências, recomendações da viagem que está a meio. Uns que descem de Lima até ao Titicaca ou à Bolívia. Outros que seguem em sentido contrário, até Machu Picchu.
Nada do rebuliço de Puno.
A cidade não é muito cativante.
A parte mais antiga tinha muita gente, as ruas estavam cheias de carros e os passeios com peões e tendas de venda ambulante.
Carros a buzinar, gente a correr de um lado para o outro, entre as portas do pequeno comércio.
A parte mais distendida é junto ao cais onde se compram os bilhetes para os barcos.
É uma zona mais moderna e com espaços verdes.
A gare rodoviária não é muito grande e convém comprar bilhetes com antecedência caso se pretenda ir para a Bolívia, em particular para Copacabana. Fiz a viagem de táxi na companhia de um casal de suíços que ia tentar adquirir bilhete para o próprio dia (conseguiram!).
O táxi pedido no hotel levou-me de seguida para o porto.
Comprei o bilhete para Uros, logo à entrada, e depois pagar uma taxa. Ao todo foram 15 soles.
As ilhas de Uros são um dos principais destinos turísticos desta região.
Os locais recorrem a outros meios de sobrevivência mas parte significativa da sua atividade depende do turismo.
São afáveis, não são chatos nem insistem em vender ou serem pagos em troca de fotografias ou outras gentilezas.
Vendem artesanato e cobram por um pequeno passeio de barco.
À chegada dos turistas, fazem uma breve exposição sobre o modo de vida da comunidade.
Ao longo da viagem facultam (ou induzem) a possibilidade de se almoçar nos restaurantes locais.
É interessante a visita. São ilhas artificiais sustentadas num vegetal, a totora.
Foi através deste processo que se isolaram, no meio do lago Titicaca, e se protegeram de povos invasores, designadamente dos incas.
Ao todo são mais de 50 ilhas e a população ronda os 2500 habitantes.
O ex-presidente Fujimori permitiu-lhes ter energia solar, o que dá para verem televisão, só falta acesso à internet.
Não se pode fumar, devido ao perigo de incêndio, mas eles cozinham. As casas são pequenas, rústicas e andar a pé é como se estivéssemos sobre os amortecedores de um carro.
Em algumas ilhas há espaços abertos, com a água à superfície, servem para aquacultura.
Tal como em toda esta região do Andes, as pessoas são pequenas, de tez morena, as mulheres com saias largas e roupa colorida.
Há muitas crianças. Convivem com os turistas, recebem ofertas e estão sempre disponíveis para as fotos. Algumas mulheres despedem-se na primeira ilha com cantares tradicionais. Nada de mais.
Nas outras ilhas pode-se ver o dia a dia da comunidade. Pesca, transporte de alimentos e artefatos em totora.
Este ambiente não vai durar por muitas décadas. Dizem-me que as algas e despejos de esgotos para o lago, de populações que são cada vez maiores, poderão alterar significativamente o meio ambiente.
Se nada for feito, o lago e estas comunidades vão sofrer grandes alterações nas próximas décadas.
No regresso, o motorista de táxi, David, insistiu em que eu visitasse a Plaza de Armas de Puno. Não podia ir embora sem a visita. Ficaria magoado. Claro que tive de lhe fazer a vontade!
É uma praça típica desta região.
O edifício central é a catedral, tem um jardim em frente. Um dos lados da praça é ocupado pelo sede do município e, do outro lado, lojas e restaurantes para turistas.
Acordar e ver pela imensa janela de vidro do quarto a cidade de Puno a desaguar no azul do Titicaca é fantástico.
Nem apetece levantar, apenas contemplar.
Assim fiz no último dia, antes do regresso a Lima, com a manhã passada na esplanada do Mirador del Titikaka. À conversa com dois casais franceses. Vinham do Sul, da Patagónia, e alguns estavam a sofrer do mal da altitude.
Foi o David que me levou à agência Rossi que faz o transporte de van, de Puno para o aeroporto internacional Inca Manco Capac, em Juliaca.
O nome é maior do que as instalações do aeroporto.
O bilhete para o aeroporto custou 15 soles e a van não estava cheia.
A distância até Juliaca é de 44 km e a viagem demorou cerca de uma hora.
Parte deste tempo foi passado em Puno a recolher passageiros junto dos hotéis.
Juliaca é uma cidade muito grande. Com vias largas, muitos prédios e arruamentos por fazer.
É aqui que encontro uma universidade, uma das maiores instalações de ensino na região dos Andes peruanos.
Noutras zonas da cidade é mais visível a pobreza.
Segundo me informou a companheira de voo, de Madrid para Lima, Juliaca é uma cidade com muito dinheiro. Até um passado recente era um dos pontos de narcotráfico de cocaína. Ainda hoje há notícias de crimes e de enriquecimento ilícito.
O aeroporto é pequeno, estava em obras, mas o voo para Lima tinha muita gente. Não apenas turistas.
Enquanto se esperou pelo acesso ao avião, um grupo local tocou musicas andinas. Ajudou a passar o tempo. Também não havia nada mais para fazer.
O voo demora pouco mais de uma hora e não passaria de uma viagem banal até à altura em que o aparelho se preparava para aterrar. Toca um telemóvel e, no banco atrás, uma mulher atende e conversa um pouco. De nada vale o meu no puede. Só muito tempo depois a mulher lá disse que estava num avião e que não podia falar naquele momento!
Lima. Altitude de centena e meio de metros. Nova vida, com leveza!