O rio Guadiana foi a autoestrada entre muitas vilas portuguesas e a ligação do Alentejo ao Mediterrâneo.
O rio anda por Portugal numa extensão de 200 km, a partir do sul de Elvas. No interior do país ou a fazer fronteira com Espanha (quando a fronteira ultrapassou a linha do Guadiana Castela não gostou e anexou Olivença).
Em algumas partes do percurso é um rio meio adormecido ou grandioso como no Alqueva onde criou o maior lago artificial da Europa, com cerca de 250 km de área e alterou a rotina e o ambiente local.
A albufeira passou a fazer parte da paisagem de várias localidades. Por exemplo na Amieira, Mourão e Monsaraz onde visitantes procuram praias fluviais, passeios de barco ou simplesmente observar as estrelas.
O Observatório do Lago Alqueva é o polo desta iniciativa. Organiza ações de terça a sábado e no edifício principal tem um telescópio para as observações do céu noturno e também um telescópio solar.
Um passeio de barco pela albufeira durante o dia é a iniciativa mais comum. Descobrimos outras perspetivas da natureza, das aves que estão a regressar e um olhar muito diferente do Alentejo. Por vezes até nos surpreendemos, como conta Filipe Ferro que organiza passeios até Espanha, Mourão e Aldeia da Luz e oferece uma vista ímpar do monte de Monsaraz e do Castelo de Mourão, “a partir da ilha dourada, a única ilha de areia no Alqueva”.
Mais a sul, podemos fazer outro passeio de barco no Guadiana onde o rio tem uma forte associação a Mértola. O Guadiana foi a auto estrada que levava bens e pessoas para o Mediterrâneo e o porto de Mértola era o inicio do percurso fluvial. Foram intensas as trocas comerciais realizadas por vários povos e civilizações. “Mértola acaba por refletir nas ruas, nas casas, na paisagem urbana a herança dos povos que por aqui passaram, nomeadamente os romanos e árabes”, conforme descreve João Rolha, do Turismo de Mértola.
O passeio de barco permite uma visão geral da vila, da robustez da enorme muralha que nasce junto ao rio e do casario branco que nos leva ao castelo que no passado observava todos os movimentos. O passeio de barco em direção à barragem do Pomarão revela também encostas repletas de árvores e, em alguns casos, de casas de antigos guardas-fiscais.
A barragem quebrou a ligação fluvial até ao Mediterrâneo.
Recentemente foi aprovado um projeto para restabelecer a ligação fluvial que se espera esteja concluído em 2021.
Nos últimos quilómetros do Guadiana até à foz, são centenas de embarcações que encontramos no meio do rio, essencialmente a partir de Alcoutim. Muitos andam por aqui à espera de melhor oportunidade para atravessarem o Atlântico.
De certa forma, fazem reviver o tempo em que por não haver estrada o Guadiana era o meio de ligação preferido por muita gente.
Como conta Célia Domingues, “para além da pesca era também através dos barcos que chegava o carteiro, que se viajava até Alcoutim (fica a 8km) ou a Vila Real de Ranto António. Eram também por barco no Guadiana que se faziam os funerais”. A cultura local estava muito associada ao rio. Praticava-se uma técnica de pesca única em Portugal. Era a pesca com barco à colher. Uma rede era colocada junto à ré da embarcação que se deslocava em direção à margem do rio.
Célia Domingues é guia do Museu do Rio que fica em Guerreiros do Rio, no concelho de Alcoutim. O Museu do Rio está numa antiga escola primária mesmo à beira do Guadiana e tem miniaturas de barcos típicos do rio Guadiana.
A200, a via rápida do Guadiana faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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