Um passeio numa antiga linha de comboio entre Marvão e Castelo de Vide num “comboio” movido a pedais e onde se descobrem bonitas paisagens do Parque Natural da Serra de S. Mamede.
O passeio foi de 8km a partir da estação de Marvão-Beirã em direcção a Castelo de Vide e passámos por uma passagem de nível onde antes estaria o sinal “Pare, Escute e Olhe”.
O “comboio” Rail Bike cruzou por duas vezes a passagem de nível.
Com um intervalo de cerca de duas horas. Ida e volta. Sem locomotiva a vapor ou a diesel, nem eléctrica, nada de TGVs. É simples, a pedal.
São seis “carruagens” de dois lugares e a locomoção é feita pelos passageiros.
Cada um pedala a seu gosto e de acordo com a sua condição física. O “comboio” não precisa de ir todo junto e cada par pode escolher o seu “apeadeiro”.
As paragens podem ser feitas à sombra ou próximo de uma vista interessante para Marvão ou Castelo de Vide. A viagem permite-nos descobrir em especial o património ferroviário, a começar pela estação de Marvão-Beirã e também o Parque Natural da Serra de S. Mamede.
As paisagens vão mudando ao longo do caminho. Nos espaços mais abertos a vista alcança Marvão e Castelo de Vide. Noutros locais apreciamos o verde dos campos que nesta altura está florido das giestas.
Susana Torgal e Lenny Macleode os promotores do projecto e que todos os dias fazem este percurso dizem que “ com sorte podemos ver javalis e raposas.” Lenny fica mais fascinado com as muitas espécies de aves. Há pássaros muito coloridos de pequeno porte, várias águias (como as raras Águias de Bonelli), abutres e muitas outras espécies de aves que fazem aqui ponto de paragem na migração entre a Europa e África.
No caminho descobrimos ainda os “chafurdões”, construções de pedra redondas muito antigas onde se guardavam os animais no meio do campo ou serviam de suporte para a agricultura.
O Rail Bike tem dois programas. Um de 15km e outro de 25 km (nos dois casos ida e volta). O mais extenso, segundo Lenny, também tem tido muita procura.
As viagens são de manhã ou à tarde. A minha opção foi a do percurso que se realizou às 17h e é de facto uma excelente oportunidade para se descobrir muita da biodiversidade do Parque Natural da Serra de S. Mamede. O Ramal de Cáceres foi encerrado em 2012 e a linha férrea voltou a ser território quase selvagem.
No programa de 15km já ficamos com uma perspectiva bem definida do património ferroviário e natural. O prazer da viagem sente-se mais no regresso. No sentido Marvão-Castelo de Vide temos duas subidas que exigem uma razoável forma física. Se o companheiro de viagem partilhar o esforço a viagem faz-se bem. Lenny diz que há quem finja pedalar e sobrecarrega o parceiro.
A bicicleta não é pesada. As rodas são de plástico. O atrito com os carris é que evita maior velocidade.
A inversão do percurso é junto a uma ponte quase centenária. Mudam-se as bicicletas e, de certa forma, também se altera o estado de espírito. No regresso percebe-se facilmente pela reação dos companheiros de viagem que estamos todos mais distendidos.
Parte do percurso é a descer, o por do sol acentua outros sinais de beleza natural e o prazer de alguma velocidade é exteriorizado com vozes e gritos mais efusivos.
A chegada Beirã é também muito bonita. Passagem de nível, casas de antigos ferroviários e, por fim, a bonita estação de Beirã, toda decorada de azulejos.
São da autoria de Jorge Colaço que tem azulejos notáveis em muitos lugares de Portugal como por exemplo, o Palace do Luso, o Pavilhão Carlos Lopes em Lisboa e a estação ferroviária de S. Bento no Porto.
Em Marvão-Beirã retratam monumentos, paisagens e lugares descontraídos como praias. São “postais ilustrados” para impressionar os visitantes estrangeiros. Marvão-Beira era a primeira estação portuguesa na ligação proveniente de Madrid por Cáceres.
O troço ferroviário é do séc. XIX como também a estação de Marvão-Beirã. No entanto, os azulejos e o edifício com este volume e arquitectura resultaram de uma profunda remodelação realizada em 1926. Há quase um século. Além dos azulejos ainda conseguimos ver o relógio de dupla face e a indicação onde ficavam as salas do chefe da estação e da alfandega.
Por ser uma estação de fronteira a paragem era por vezes muito demorada. Na remodelação de 1926 construíram ao lado um restaurante e instalações para pernoita. Com o encerramento da linha ferroviária este edifício voltou a ter as mesmas funções. É uma guesthouse.
A Train Spot preserva muita da decoração interior original e ao acordar abrimos a janela para o tanque de água, vestígios da época do comboio a vapor. O átrio mantém os azulejos originais e a porta da bilheteira.
Pare, Escute e Olhe. Vai passar o Rail Bike faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
Roteiros no concelho de Marvão
Roteiros no concelho de Castelo de Vide
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