Uma encosta com uma muralha oval protege os habitantes de Castelo Mendo da vista dos estranhos e no alto brilham as ruínas de uma torre porque há muito que perderam os sinos e revelam o que dizem as pedras.
Na longa descida da estrada para as Portas da Vila surge uma santa em pedra, muitos cruzeiros e nas portas da muralha dois Berrões fazem uma espera aos visitantes.
Sem entrar em Castelo Mendo percebe-se de imediato que a aldeia tem uma longa história, rica em muitas outras histórias e eu ainda tive a sorte de encontrar um habitante que é um excelente contador de histórias.
Vamos então começar pelo que dizem as pedras e a primeira é a do Mendo, que dá o nome à aldeia. A origem é uma lenda, da Menda e do Mendo, que estão representadas em duas pedras colocadas nas paredes de duas casas, uma em frente da outra.
Na casa que foi sede de concelho, com tribunal e prisão, e construída no século XVI está a figura de Mendo. Num ponto alto, muito acima da porta.
No edifício em frente e mais acessível está a Menda.
Sem haver certezas especula-se que se trata de amores impossíveis.
Com mais detalhe é conhecida outra história que o Bispo de Pinhel pôs fim.
Em cada Primavera desaparecia de Castelo Mendo um rapaz. Presumia-se que o seu destino era ser presa de um monstro. O caso foi resolvido com um conselho de um eremita. Todos aos anos 18 rapazes iam de tronco nu à Festa de Nossa Senhora da Sacaparte, para os lados de Alfaiates. Assim foi durante séculos até o Bispo ter ordenado a proibição no século XIX.
O povoado concentrado dentro das muralhas tem a ver com outra lenda e com D. Sancho que ordenou aos habitantes de uma aldeia próxima do rio Côa que se mudassem para um lugar mais alto.
O local escolhido era menos fértil mas mais seguro, tanto mais que mandou construir umas muralhas formando a Cidadela.
Esta área está praticamente em ruínas, como também a espectacular igreja de Santa Maria do Castelo. Foi construída no século XIII é de estilo românico, foi reformulada três séculos depois e as ruínas no alto do monte criam um efeito cénico muito bonito. Podemos caminhar no interior do templo e imaginar os rituais num ambiente frio e ventoso no Inverno.
Nesta zona há vários túmulos dispersos. Um deles tem uma lápide grande, não está direita e regressamos a mais uma história contada pelo habitante de Castelo Mendo. O Tenente-coronel Miguel Corte-Real comandava um grupo de militares que seguia para Espanha e foi morto em Castelo Mendo porque não satisfez as exigências dos soldados de lhes pagar o soldo. Ficou aqui enterrado e o final feliz da história foi para o lavrador que descobriu o saco com o dinheiro e ficou rico. Faz lembrar o final do livro Onde está a felicidade de Camilo Castelo Branco.
Esta história desenrola-se numa outra área de Castelo Mendo, dentro das muralhas maiores mandadas construir por D. Dinis no final do século XIII e que tiveram oito torres, entretanto parcialmente destruídas com o terramoto de 1755. É no interior destas muralhas, com um formato oval, que se concentra a aldeia.
O largo principal tem a Igreja Matriz e ao lado está o pelourinho que é constituído por uma única pedra e é o mais alto de Portugal ao atingir sete metros. Termina com um capitel em formato de gaiola. Um pouco mais acima está a antiga Casa da Câmara, com a figura do Mendo e é onde funciona o Museu do Tempo e dos Sentidos, dedicado à agricultura.
Em direcção às Portas da Vila está a Igreja de S. Vicente com o brasão dos corvos a encimar a entrada principal.
A aldeia não é muito grande e está bem cuidada. Muitas casas de pedra foram restauradas. Portados coloridos, flores e vasos com plantas decoram algumas ruas.
No entanto, nota-se que há pouca gente. No inverno residem menos de uma centena de pessoas. Desde meados do século passado que muitos saíram das muralhas para só voltarem nas férias. Foram embora para o Litoral ou para França.
Nos últimos anos tem havido um pouco mais de movimento com os turistas, em particular depois da criação da rede das Aldeias Históricas de que Castelo Mendo faz parte. Vêm descobrir as pedras que falam e a aldeia da primeira feira franca em Portugal que se realiza três vezes por anos.
Mas isso já é outra história, como também a da alma até Almeida…
Castelo Mendo faz parte do concelho de Almeida e o aceso é muito fácil a partir da A25.
Em Castelo Mendo as pedras falam faz parte do programa Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.