O céu azul claro em Vilar Formoso foi o sinal de alivio para milhares de refugiados da segunda guerra mundial, em particular judeus que tinham um visto assinado pelo Cônsul Aristides de Sousa Mendes.
A grande maioria chegou de comboio e ainda podemos revisitar algumas dessas emoções porque a estação da CP não está muito diferente de Junho de 1940.
Conserva os vários painéis de azulejos que retratam monumentos, paisagens e costumes portugueses e que alguns refugiados referiram nas suas memórias.
Logo a seguir estão dois armazéns da estação que foram aproveitados para uma evocação muito bem conseguida da chegada dos refugiados e do papel exemplar desempenhado por Aristides de Sousa Mendes.
O Memorial, que tem uma forte carga simbólica, foi inaugurado em 2017 após um exaustivo trabalho de recolha de informação onde se reproduz, por exemplo, todos os vistos passados por Aristides de Sousa Mendes.
Logo à entrada a arquitectura do espaço, o efeito visual e o registo sonoro causam uma enorme surpresa. Depressa percebemos o significado. Vamos entrar numa viagem. Nós e “gente como nós que esteve em fuga do holocausto. Estes são os primeiros núcleos temáticos.
A perseguição a um povo e que leva muitos a fugir para França.
Segue-se a viagem. Alguns vão para França onde tentam o visto no consulado português de Bordéus.
Está digitalizado o conjunto de vistos passados aos refugiados judeus por Aristides de Sousa Mendes. Documentação e testemunhos revelam as dificuldades e a ansiedade em conseguirem um visto.
O pavilhão seguinte tem uma configuração muito diferente.
É de cor azul claro e intitula-se Vilar Formoso a Fronteira da Paz porque os que conseguiram passar a fronteira alcançaram uma linha que os libertava do holocausto.
Segundo Ana Pereira, que trabalha no Memorial, dizia-se que os refugiados judeus quando estavam em Espanha o céu estava cinzento. Quando chegaram a Vilar Formoso o céu estava azul. Um sinal de esperança.
O discernimento de um refugiado da guerra, George Rony, que pertencia a outro grupo, levou-o a filmar a chegada e a forma como a população recebeu os refugiados oferecendo comida e água. É um dos documentos mais interessantes e que registou o que mais tarde é lembrado nas memórias emocionadas de alguns refugiados em testemunhos em vídeo.
O núcleo seguinte é o alojamento dos refugiados em estâncias balneares e termais. Esta parte tem uma forma arredondada e simboliza o abraço entre quem chega e quem recebe.
As experiências voltam a ser lembradas em testemunhos e também em apontamentos ou referencias literárias da autoria de refugiados que ganharam notoriedade como escritores.
No cinema há também a referencia à passagem de Zsa Zsa Gabor que se destacou na industria de Hollywood, em vários filmes e em quase uma dezena de casamentos.
O Memorial termina com a partida dos refugiados. A maioria de barco e para os Estados Unidos.
O regime português acabou por consentir a passagem dos refugiados judeu mas recusou a permanência em Portugal.
É verdade que ao longo do percurso somos contagiados pela viagem dos refugiados mas fica também a amargura pelo esquecimento no passado e, de certa forma também no presente, de um gesto notável de Aristides de Sousa Mendes.
Vilar Formoso Fronteira da Paz, Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes integra a rede de Judiarias de Portugal.
Ana Pereira teve a gentileza de nos acompanhar. A visita guiada é muito mais esclarecedora e complementar em relação aos materiais e documentos expostos.
O visto de Aristides S. Mendes para o azul claro de Vilar Formoso faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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