Sortelha ainda vai dar em divórcio.
Não se entende como permitiram a colocação de eólicas em zonas tão próximas da vila histórica.
Fotografa-se a torre sineira ou a muralha na Porta Nova, com um pôr do sol lindíssimo, as pedras a refletirem a luz dourada, e o cenário de fundo são as pás das eólicas!
Julgo que a deceção é ainda maior para quem conheceu Sortelha antes destes moinhos quixotescos.
O melhor é virarmos as costas para as eólicas e saborear a vista magnífica do outro lado.
A altitude, de quase 800 metros, oferece-nos um largo horizonte, verdejante, com uma aldeia ao longe e poucas construções dispersas.
Ao lado, mesmo junto à muralha, as ruínas da igreja da Misericórdia.
No interior da muralha, no sentido descendente, o olhar foca-se no casario de granito.
Todo alinhado, com casas de dois pisos, que se mantêm de pé, firmes, apesar da rudeza do ambiente. Algumas foram recuperadas, em particular os portados.
Sortelha é uma das vilas históricas que melhor preservou o seu património.
A divisão social também se regista na designação das habitações pelos cargos ou funções que tiveram os seus ocupantes durante muitos anos. É exemplo a casa do Governador (função desempenhada nos séculos XV e XVI) ou a casa do escrivão.
Destaque também para uma outra casa, que tem uma janela manuelina no piso superior, um antigo relógio de sol em pedra na parede e a fachada um pouco abaulada pela força dos anos.
Numa zona muito próxima, temos a afirmação do poder.
Em primeiro lugar, o poder religioso, com a igreja. Uns metros abaixo, no largo do Pelourinho, a afirmação do poder torna-se ainda mais evidente.
A sede de concelho (até 1855) teria de ter o inevitável edifício municipal com a prisão no piso inferior e a câmara no piso superior. Hoje funciona aí a Junta de Freguesia.
O pelourinho está no centro do largo e vinca o seu simbolismo através da esfera armilar atravessada por um espigão.
O poder militar domina.
Afirma-se com altivez através do castelo e o protagonismo é da torre de menagem.
Uma outra perspectiva interessante para o alto do cabeço é quando temos as boas vindas da Velha. A cabeça da velha ergue-se no topo da colina, entre outros rochedos, cujas formas apelam à nossa imaginação.
O mesmo cenário se pode ver após a passagem da Porta da Vila para o Largo do Corro. Aqui também se destaca um lódão, com muita idade, e parte da muralha reconstruída após ter sido dinamitada nas invasões francesas.
Passar, pelo menos, uma noite aqui é uma experiência interessante. Vive-se um ambiente singular numa das casas que se podem alugar. Algumas estão equipadas com objetos tradicionais e há restaurantes e bares abertos durante a noite.
Refresca à noite mas vale a pena ver o céu, sem ruído da luz artificial, e sentir o silêncio.
Sortelha ocupou uma posição estratégica para o reino de Portugal, tendo em conta a disputa fronteiriça com o reino de Leão, e a sua ocupação terá começado no século XII. Com o Tratado de Alcanizes, em 1297, a fronteira ficou distante da vila (é a atual, a 45 km) e reduziu a sua importância estratégica.
No último Censos, em 2011, estavam registados 444 habitantes, um terço do que tinha 50 anos antes.
Apesar dos problemas da interioridade e da desertificação, a Vila de Sortelha tem registado algum dinamismo no turismo nos últimos anos.
Sortelha está a 14 km do Sabugal.
Sortelha Eólica faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e pode ouvir aqui.
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