O adufe tem uma sonoridade singular e em conjunto com o seu aspeto rustico ganhou uma identidade muito própria.
É um instrumento musical muito associado à música tradicional das regiões de fronteira desde que há o seu registo em Portugal e que já ultrapassa um milénio.
Onde o adufe está mais enraizado é no concelho de Idanha a Nova com as adufeiras.
No entanto, na sua forma tradicional, corre o risco de desaparecer. José Relvas pode ser o último construtor de adufes seguindo as práticas tradicionais.
João Abrantes diretor artístico da Filarmónica Idanhense e estudioso da musica tradicional portuguesa e diz “não ser conhecido outro construtor nesta zona a fazer o mesmo e não tem comparação a qualidade destes adufes tradicionais com os restantes”.
O adufe tradicional, que João Abrantes chama “adufe cru” era de pele de cabra, esticado e cosido à mão e com um guizo no interior. Não eram as caricas como se usa hoje. A sonoridade é muito diferente. O modo de produção alterou-se porque já não há construtores mas mantém-se a procura pelos adufes.
A opinião de João Abrantes é partilhada por outros especialistas que vão à oficina de José Relvas em Idanha à procura dos adufes genuínos.
Há quem faça adufes com pele de ovelha mas José Relvas constrói exclusivamente em pele de cabra e de acordo com os métodos tradicionais. “Aposto na qualidade e não na quantidade”. Onde abdicou foi no guizo no interior do adufe e que produz uma som metálico. José Relvas colocava o guizo, mas com a massificação das garrafas de bebidas as pessoas começaram a colocar caricas no interior dos adufes e é este processo que a maioria das pessoas lhe encomenda, adulterando a originalidade do instrumento. Mas se lhe pedirem com guizo ele continua a fazer.
José Relvas leva cerca de 3h a fazer um adufe e tem algumas vendas para o estrangeiro essencialmente através da página na internet. Fornece também o conservatório da Galiza e “a mestres da musica tradicional portuguesa que me vêm bater à porta. No entanto, e apesar da garantia de qualidade, pode acabar aqui a tradição familiar de construção de adufes.
A família de José Relvas dedicava-se a trabalhar com peles e faziam adufes. Foi a última geração que lhe passou o testemunho e ele não sabe se “em boa ou maldita hora” decidiu prosseguir para não deixar morrer a tradição. Para garantir a sua sobrevivência tem oliveiras que trata delas e colhe a azeitona para fazer azeite.
Das gerações anteriores, José Relvas ainda tem memória da troca direta. “Aparecia uma velhinha e pedia ao meu pai para fazer um adufe. Era a troco de um litro de feijão ou um quilo de batatas porque naquele tempo não havia dinheiro. Depois era uma festa. As velhinhas juntavam-se a tocar e a cantar, ou quando acabava a campanha da azeitona. Na Páscoa também havia o costume de cantarem com o adufe.”
O adufe terá sido introduzido em Portugal a partir do século VIII. Vulgarmente é atribuída a sua origem aos árabes mas João Abrantes associa mais aos ritmos africanos e admite até que tenha sido introduzido em Portugal mais cedo do que se fala e muito seguramente com outro formato.
Adufe – sonoridades do genuíno e das caricas faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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