Uma viagem pelo planalto da Terra de Miranda projeta-nos a memória de espaços rurais com Uma viagem pelo planalto da Terra de Miranda projeta-nos a memória de espaços rurais com parcelas agrícolas e as pequenas hortas junto às casas no interior das aldeias.
Um exemplo que permanece até aos dias de hoje é em Picote. O cuidado na delimitação das pequenas parcelas, o terreno limpo e a vitalidade dos vegetais e das árvores de fruto mostram como são espaços importantes para cada família.
“Geralmente as hortas eram implementadas nos sítios mais férteis. Eram pequenas parcelas onde cada família tinha o cultivo para o dia a dia. Tinham uma grande diversidade de legumes: cebolas, alfaces, cenouras, batatas. Outra característica é que as hortas estavam próximas de fontes e cada uma tinha um poço. Hoje há muito menos água, alguns poços estão secos e chove pouco o que afasta as pessoas das hortas.” A descrição é de Margarida Telo Ramos, engenheira florestal e vive em Picote.
Este retrato ajuda-nos a perceber melhor os contornos da agricultura familiar de subsistência que predomina nesta região.
Não é fácil. As arribas do Douro são graníticas e mais para o planalto o solo não é muito fértil e chove pouco.
Mesmo assim, em muitas aldeias vemos picotas (ou “ciguonhos”) junto aos poços, pequenos espaços verdes repletos de vegetais e um pouco mais distante alguns terrenos cultivados.
Num passado recente produziam trigo barbela e muito centeio. “Há cerca de 50 anos os terrenos estavam quase todos cultivados com centeio, mesmo até às zonas das arribas do ouro. É um cereal pouco exigente, não precisa de muita água, tal como o trigo barbela. Nos últimos 40 anos foram introduzidas outras variedades de trigo que são mais produtivas.
Além destes cereais plantavam-se também algumas leguminosas que se dão bem aqui como grão de bico e o feijão frade que tem a designação local de chicharros.” Eram estes produtos referidas por Margarida Telo Ramos mais os da horta, e quase só estes, os que serviam de alimento às famílias. “É muito interessante porque havia pessoas que praticamente só se alimentavam do que era produzido na horta mais as leguminosas e têm uma idade avançada.”
A batata era a base da alimentação. O prato mais comum era a sopa feita com os produtos agrícolas da horta. “Antigamente a sopa, o caldo, era o prato principal. Hoje foram introduzidas novas culturas e conhecimentos e a culinária está muito diversificada.”
Como instrumento de salvaguarda de todo este património botânico e cultural Margarida Telo é uma das autoras de um estudo, Etnoflora da terra de Miranda, sobre etnobotânica e que incidiu em particular nas aldeias próximas do Rio Douro e que fazem parte do Parque Natural do Douro Internacional. Fizeram um levantamento das espécies e dos cultivos realizados pelo homem na Terra de Miranda. Foi ainda realizada uma recolha de sementes, usos e saberes relacionados com as várias espécies botânicas.
As hortas do planalto mirandês faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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