José Ribeiro é o rosto da editora Ulmeiro e da livraria com o mesmo nome que durante muitos anos permaneceu em Benfica, em Lisboa.
Já vamos conhecer mais em detalhe o seu percurso profissional e pessoal que foi sempre acompanhado por duas linhas paralelas. Como se fossem carris sobre os quais assenta a sua viagem: o prazer da leitura e a exigência de Liberdade.
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Há algumas dezenas de insetos que se alimentam de livros, do papel – os bibliófagos – e que podem destruir uma biblioteca. Mas também há o bicho do livro que nos amarra eternamente à leitura.
Foi o que sucedeu a José Ribeiro. Diz “não saber fazer mais nada” e um dos motivos é porque “uma vez com o bichinho do livro, é difícil que ele saia. Embora o sector, tanto de editores como de livreiros, apresente muitos problemas e uma classe dividida. O domínio dos grandes funciona como eucaliptos e seca completamente esta floresta.”
José Ribeiro é alfarrabista e dono da livraria Ulmeiro que faz este ano meio século. Vive rodeado de livros e foi contaminado muito cedo pelo bicho do livro. “Nasci numa casa sem livros. Sou filho de pais analfabetos e tive a sorte de ter tido uma professora primária que me colocou a ler. Também devo muito às bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian que vinham à minha aldeia de 15 em 15 dias. Para além dos livros traziam pessoas que gostavam dos livros.”
Foi também muito cedo que fez a opção profissional de ser livreiro e editor. Com vinte e poucos anos de idade abriu a primeira de várias livrarias. Foi ainda editor e contribuiu para o surgimento de outros editoras de livros.
Curiosamente ficou amarrado ao livro, mas procurou sempre que as livrarias fossem um espaço de liberdade de expressão e de resistência ao antigo regime.
Hoje afirma-se dececionado. Com a indústria do livro, com as preferências da maioria dos leitores, com a mediocridade. “É muito pouco o que vale a pena ler hoje. É óbvio que há autores que se continuam a editar e vale a pena ler, mas eu tenho um enorme ceticismo em relação ao que se publica. Eu sou visceralmente contra uma tendência que se tende a alastrar na sociedade portuguesa que é a mediocridade. Mesmo em outros setores como por exemplo na política. Vejo com tristeza que passados todos estes anos após a revolução do 25 de Abril a chamada revolução cultural nunca se fez.”.
A tristeza não lhe abala a vontade e se no passado deixou uma marca de resistência, agora é o mesmo atributo que o ajuda a manter viva a livraria Ulmeiro. Já teve morte anunciada várias vezes mas acabou de dar um passo que espera fazer renascer o seu espaço.
Deixou Benfica e mudou para outro lado da cidade de Lisboa, para a Fábrica Braço de Prata. “Queremos fazer um polo com grande variedade de livros e também de temáticas. Um espaço de debate e não apenas de lançamentos de livros que isso sabe a croquetes e copos”
Como já se percebeu no Ulmeiro não encontra o “top de vendas”. Pode até ter algumas dificuldades em escolher o que quer. Os livros estão organizados por temas em várias áreas da Fábrica Braço de Prata.
Há publicações em corredores, pequenas salas, escadas… e no “Espaço Ulmeiro” onde à sexta-feira e ao sábado pode contar com a ajuda de José Ribeiro e também com uma característica neste tipo de espaços. A disponibilidade para uma conversa.
O Espaço de liberdade e paixão pela leitura da Ulmeiro faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
O Vou Ali e Já Venho tem o apoio: