Gagos está a perder habitantes e até o estatuto de freguesia depois de em 2011 ter sido agregada à de Jarmelo de S. Pedro, no concelho da Guarda.
Apesar do desvanecimento continua firme uma das marcas da sua ruralidade.
Dois alpendres onde se fazia a feira mensal, uma das maiores feiras do concelho, ou, como diz António Santos, presidente da Junta de Freguesia de S. Jarmelo de S. Pedro “talvez uma das mais relevantes do distrito da Guarda” e acabou há cerca de 30 anos.
Já não há a feira mas permanecem os alpendres. Um nas costas do outro com pedras e bancas em granito. Os pilares que suportam o telhado são também em granito, como também algumas pedras soltas em cima das telhas para evitar que alcancem outros voos.
No interior quatro estantes de madeira, em estilo rústico, percorrem a parede central. A estrutura estreita alonga-se numa rua perpendicular à estrada principal e revela alguma idade. António Santos calcula “em mais de 200 anos.
Os alpendres era onde as pessoas colocavam à venda as sementes. Havia outro conjunto de alpendres, ao lado, mas foi destruído para se construir o parque infantil”.
A substituição dos alpendres por um parque infantil tem hoje um sentido mais estranho porque quase que não há crianças. No último Censos, de 2011, toda a freguesia tinha 127 habitantes.
António Santos andou a mostrar-nos algumas das 10 aldeias da freguesia e o seu maior lamento é olhar para as ruas vazias de gente. Os campos agrícolas são outro sinal de desertificação. “Há pouca gente a dedicar-se à agricultura. Alguns ainda cultivam e vendem a comerciantes que vão à casa do agricultor. Aqui há pouco vinho e frutas devido ao frio. O que domina é o feijão, grão, batata e centeio embora, cada vez menos porque animais já não há.” Até a feira do gado que se realizava no largo em frente dos alpendres teve o mesmo destino, “porque quiseram acabar com a feira dos gados e a burocracia era enorme.”
Apesar de na região haver uma raça bovina autóctone, a jarmelista. Esteve quase extinta mas conseguiram retomar a criação e até fazem uma feira no alto de Jarmelo, no primeiro fim de semana de Junho, onde há um concurso para distinguir os melhores animais.
Esta feira tem ainda uma componente económica e cultural como visitas ao castro e ao museu.
A vaca jarmelista é amarela e distingue-se por ter uma franja muito grande. António Santos diz que também a textura e o sabor da carne é diferente das restantes.
Regressando à rua das Sementes, onde estão os alpendres, fazemos também uma viagem ao coração granítico da aldeia.
A robustez das casas e da igreja matriz não se comparam em graciosidade com uma pedra arredondada que está próximo do parque infantil.
É uma homenagem às “bodas de ouro sacerdotais do cardeal D. José Saraiva Martins que está no Vaticano. É natural de Gagos. e “na Igreja Matriz fez o batismo, a primeira comunhão e o crisma. Todos os anos regressa em Agosto e há o hábito da família Saraiva fazer um almoço.” Em alguns momentos foi também a esperança dos habitantes de Gagos serem conterrâneos de um Papa.
A visita a Gagos tem de ter ainda em conta o drama de Inês de Castro que está representado no alto de Jarmelo “que teria sido destruido por D. Pedro I num ato de ira porque um nobre de Jarmelo participou no homicidio de Inês”. A obra é da autoria de Rui Miragaia, filho de Mateus Miragaia, o último ferreiro a fazer tesouras de tosquia e que vive em Donfins, uma aldeia da mesma freguesia.
A feira das sementes em Gagos faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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