Carlos Marques é um dos vários andarilhos que anda pelo país a contar histórias.
Entra em cena como se tratasse de uma conversa de café, com amigos, vai perguntando a cada um coisas da vida mundana, mas é um jogo, uma técnica de sedução que pratica em “bibliotecas, festivais, encontros, teatros, salas de espetáculo…”.
A solo ou em conjunto com “a companhia de teatro Algures, que organiza um Festival chamado Festa dos Contos, e uma das apostas é o teatro narrativo. Contar histórias e insistir num determinado tipo de relação que aproxime as pessoas do teatro, da leitura e da cultura.”
Conforme evolui a interação com a audiência e, como ele próprio o afirma, evidencia uma militância, uma determinação na valorização da cultura. É um traço que o acompanha há mais de uma década.
Desde 2005 que Carlos Marques é um contador de histórias. Tem formação em Estudos Teatrais na Universidade de Évora e no Institut del Teatre em Barcelona. É músico e anda sempre com a viola.
Foi assim que o vi encantar crianças e adultos na Biblioteca Orlando Ribeiro, em Telheiras. “O meu registo recorre muito à música porque tenho este bichinho de cantor de intervenção. Não fico apenas na narrativa da palavra ou do texto. O que define um contador de histórias é precisamente o seu repertório e o seu estilo”.
No início da sessão procura de imediato um olhar atento sobre cada uma das pessoas na assistência. Procura a interação. O mais difícil é “conseguir essa conexão. Pode-se ser muito bom ator, muito perfeito a contar uma história e pode não haver essa relação que é única. É só no aqui e agora. O importante é estar ali com aquela pessoa que me está a ouvir. Aquela e não outra.
Isto também tem a ver com um processo de escuta de quem está a contar a história. Porque quem conta tem de conhecer os que o estão a ouvir. Isto é um processo muito rápido, é um ato familiar e comunitário. Eu acho que a base disto é voltar a construir comunidade”.
A conexão para o encantamento das histórias, o fascínio da palavra são os instrumentos que nos transportam para “qualquer coisa de mágico. O que eu pretendo é que os espetadores saiam daqui com a sensação que foi único e irrepetível.”
Estava a sessão a meio e já crianças e adultos viviam, a seu modo, o prazer das histórias. Cantavam o refrão das músicas ou acrescentavam pontos aos contos. Esta relação, curiosamente, teve algumas mudanças em mais de uma década de experiência na estrada. Por outro lado, é sentida de forma diferente entre os vários tipos de público, “por exemplo, há uma maior capacidade de escuta no público rural.
Por outro lado, há pouco mais de uma década, a capacidade de escuta dos miúdos, e até dos adultos, era maior. Hoje há muito pouca resistência devido a vários estímulos como telemóveis, jogos, tablets… que provocam uma falta de permanência nessa escuta. Por isso, o contador de histórias tem de entreter de vez em quando, puxar um coelho da cartola e voltar a ganhar o público.”
O andarilho anda Algures por aí, a partir de Montemor-o-Novo. Numa das histórias autobiográficas diz que, no seu caso, a magia começou quando alguém lhe tocou no ombro e lhe sugeriu conhecer um grupo que fazia teatro. Acho que o seu sonho é, em cada sessão pública, conseguir fazer o mesmo num dos presentes, tocar no ombro e sugerir-lhe que siga a magia das palavras ditas, escritas, cantadas….
Carlos Marques – o contador de histórias irrepetíveis faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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