Há 22 anos que andam a manipular. Manipulam bonecos, sentimentos, vozes e silêncios.
Tudo para que quem assiste aos espetáculos seja envolvido na magia de dar vida aos bonecos. Além da sua materialidade, nós projetamos afetos e partilhamos as emoções. Só é preciso entrar no mundo da fantasia.
Do ponto de vista técnico, Sofia Vinagre, um dos membros da S.A. Marionetas, cita o olhar de quem está atrás dos bonecos: “para passar a magia da marioneta é importante que quem a está a manipular, mesmo que esteja à vista do público, acabe por se tornar invisível e que o foco das pessoas se centre no boneco.
Depois, quanto mais rica for a personalidade da marioneta, que é feita pela voz, pelos tiques, o próprio texto, a forma como é articulado…, acaba por criar essa ilusão de que que está vivo, que tem uma maneira especifica de ser.” Não só ganham vida como uma personalidade. A dificuldade, aliás, é para quem está a manipular vários bonecos ao mesmo tempo e tem de criar essa personalidade em cada um deles.
Não é fácil. “O núcleo duro da companhia são três pessoas e por vezes temos espetáculos com mais de 20 marionetas. Cada um de nós tem de fazer vários personagens. Isso implica fazer vozes diferentes, os bonecos têm personalidades diferentes, tiques diferentes. O trabalho é complexo.”
Quando estão em cena vários bonecos ao mesmo tempo e é grande a dinâmica e a interação entre eles, fica-se um pouco perplexo como os marionetistas conseguem articular o movimento de cada um deles, os diálogos, a voz, a alma que é preciso dar a cada um. “É uma questão de treino. Nós trabalhamos com muitas técnicas diferentes de manipulação. Desde marionetas de luva, fios, varão, sombras…Parece muito mais difícil do que realmente é”. Sofia descomplica mas não me convence.
A SA Marionetas é uma companhia de reportório. Cria espetáculos de forma continua e são andarilhos. A sede é em Alcobaça, mas não têm sala própria. Andam por teatros e outros lugares. José Gil, outro membro da companhia, diz que cerca de 60% dos espetáculos são no estrangeiro. Em particular na Ásia e nas Américas. No final do ano passado andaram também por África. Por outro lado, os espetáculos que criam são concebidos para toda a gente.
“Não temos o conceito de espetáculo infantil. Uma pessoa de 3 ou 80 anos pode ver a mesma peça. Sempre desconstruímos essa ideia de as marionetas serem um tipo de teatro para gente mais nova. Aliás, a génese deste tipo de teatro foi para adultos.”
Como quase todo o processo criativo é da autoria da companhia, desde a construção das marionetas à encenação e aos textos, têm liberdade para se adaptarem à assistência. “Há margem para algum improviso. Estamos sempre atentos à resposta do público o que nos permite falar diretamente com alguém da assistência. Temos espetáculos que vamos ao público buscar pessoas para interagirem com as marionetas. O nosso propósito é que as pessoas saiam bem-dispostas.
Noutros casos, como no grandioso Lúmen a envolvência ainda é maior porque exige um espaço amplo e uma construção cénica que engloba quem assiste ao espetáculo.
O resultado deste trabalho é a continuidade do projeto como companhia profissional e a distinção com cerca de duas dezenas de prémios a nível nacional e internacional.
O percurso profissional da SA Marionetas coincide também, nos últimos anos, com uma renovação do teatro de marionetas. Pelo que diz José Gil, há excelentes companhias em Portugal e o interesse do público também tem vindo a aumentar.
O terceiro elemento que faz parte da companhia é Natacha Pereira.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=W6s5U-_bfZg]
Por último, refira-se que José Gil também faz teatro com D. Robertos.
Os manipuladores do nosso encanto pelas S.A. Marionetas faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:
Pingback: Rrraios te partam! Os Dom Roberto são património nacional há 1 ano - Andarilho