“o tipo (de casa) do Norte carateriza-se essencialmente por ter dois pisos; uma loja térrea destinada aos gados e à guarda de alfaias e produtos agrícolas, e um sobrado ou andar para habitação, onde ficam a cozinha e os quartos. estas duas peças, sobrepostas, são todavia independentes. A entrada para a parte de habitação faz-se por uma escada exterior de pedra, paralela ou perpendicular à fachada, com patamares em frenteda porta principal”.
Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico; Orlando Ribeiro
A casa beirã tem algumas variações, consoante a região e a capacidade financeira do proprietário.
Mas há um conjunto de elementos comuns que hoje ainda se evidenciam nas habitações que chegam aos nossos dias.
A construção é de granito e têm dois pisos. O primeiro para residência da família. O rés do chão para os animais ou como loja para arrumos.
O acesso ao primeiro piso é feito por um balcão de pedra, por vezes delimitado por pedras grandes de granito dispostas na vertical. O balcão está protegido por um alpendre.
Outra particularidade era a existência de um cubículo muito pequeno debaixo da escadaria do balcão onde se colocavam algumas galinhas que não podiam sofrer de claustrofobia. Uma pequena porta de madeira ou com rede trancava-as no reduzido espaço do interior do balcão de meia dúzia de escadas de granito.
O interior das habitações era muito simples e com divisórias muito pequenas. O chão era em soalho de madeira e as divisórias, frequentemente, em paredes de taipa.
No inverno o aquecimento era com a respiração dos animais que eram colocados no rés do chão.
Nas Beiras encontram-se ainda muitas casas que preservam estas características e há mesmo um lugar onde se fez a recriação da casa beirã, em 1956, com a construção da Alameda dos Balcões, no Vale da Senhora da Póvoa, no concelho de Penamacor.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=HJWXbYW1SAM]São dez casas, cinco de cada lado da rua. Adelino Domingues é professor de Português reformado e é proprietário de uma das casas. Ele conta que o projecto é da autoria de Jaime Lopes Dias, etnógrafo, escritor e historiador que nasceu aqui e durante 22 anos foi diretor dos serviços centrais e Culturais da Câmara de Lisboa.
É na sequência dos estudos de Jaime Lopes Dias sobre a etnografia da Beira que se baseia a construção da Alameda dos Balcões.
As casas são tipicamente beirãs mas o trabalho de cantaria, na pedra que suporta o balcão, tem alguns efeitos decorativos que não são habituais neste tipo de construção. Algumas pedras têm motivos decorativos da tradição clássica.
Na altura a aldeia ainda se chamava Vale do Lobo. Só a partir de 1957 é que mudaram o nome para Vale da Srª da Póvoa. Há cerca de duas décadas quase todas as casas foram renovadas e estão em bom estado. O único senão é a desocupação grande parte do ano porque cada vez há menos gente na aldeia.
Na altura da construção da Alameda a escola teria cerca de 50 crianças. Agora não há escola e apenas duas ou três crianças que estudam noutro lugar.
No cimo da rua está a Igreja de S. Tiago. Foi construída em 1944. O trabalho de cantaria é do Mestre Cartola, de Medelim. Os dois arquitetos são de Lisboa e trabalhavam na Câmara Municipal. Surgiram neste projeto a convite de Jaime Lopes Dias.
O Vale da Senhora da Póvoa é muito conhecido pela festa da Senhora da Póvoa, uma das maiores romarias da Beira Baixa.
O Vale da Srª da Póvoa está a 19km de Penamacor, a sede de concelho.
A casa das Beiras faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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