A romaria da Senhora da Póvoa é uma das maiores da Beira Baixa. Junta milhares de pessoas e antes da vaga de emigração de meados do século passado era uma festa inesquecível para muitas famílias.
A Senhora da Póvoa e a Senhora do Almortão, em Idanha-a-Nova, eram as duas maiores romarias desta região e foram sempre lugares muito associados à cultura raiana.
O cancioneiro popular tem muitas referencias às duas festas e o próprio José Afonso dedicou uma canção às duas romarias na música Senhora do Almortão
Ainda hoje as duas romarias reúnem milhares de pessoas e continuam a associar o religioso com o pagão, a fé com a diversão.
O santuário é muito grande e fica no sopé da serra d’Opa. Dizem que o lugar foi povoado há mais de um milénio e há vestígios pré-romanos (o mais conhecido é uma ara dedicada a Júpiter) que foram encontrados em lugares vizinhos. Alguns destes dados estão referenciados na Carta Arqueológica do Concelho de Penamacor.
Na conversa com Adelino Domingues, fica-se com a ideia que ao percorrermos a serra encontramos com frequência sítios arqueológicos muitos deles ainda por explorar.
O povoado mais antigo seria Nossa Senhora da Póvoa, próximo do santuário. Um outro lugar que evidencia a origem antiga fica num olival, próximo do santuário, onde o “trator tem dificuldade em lavrar a partir de meio metro de profundidade”. Contam que há restos de cerâmica e pedras. Adelino Domingues refere que numa propriedade que lhe pertence encontrou um machado do neolítico que ofereceu ao museu de Penamacor.
Adelino Domingues é professor de Português reformado e dedica-se a estudar os povos celtas. Escreveu o livro Senhora do Monte, uma viagem às origens da Senhora da Abadia, no Gerês. Ele tem uma casa no Vale da Senhora da Póvoa que fica a cerca de 1,5km do santuário.
A casa é um dos 10 edifícios em pedra que formam a Alameda dos Balcões. Estão cinco casas de cada lado. São todas iguais, de granito, com uma loja, um balcão que dá acesso ao primeiro piso e com um pequeno alpendre.
No cimo da rua está a Igreja de S. Tiago. Foi construída em 1944. O trabalho de cantaria é do Mestre Cartola, de Medelim. Os dois arquitetos são de Lisboa e trabalhavam na Câmara Municipal. Surgiram neste projeto a convite de Jaime Lopes Dias, etnógrafo, escritor e historiador que nasceu aqui.
Na altura ainda se chamava Vale do Lobo. Só a partir de 1957 é que mudaram o nome da povoação para Vale da Srª da Póvoa.
Jaime Lopes Dias fez vários estudos sobre a etnografia da Beira e durante 22 anos foi diretor dos Serviços Centrais e Culturais da Câmara de Lisboa.
A Alameda dos Balcões terá tido uma forte influência de Jaime Lopes Dias. As casas são tipicamente beirãs mas o trabalho de cantaria, na pedra que suporta o balcão, tem alguns efeitos decorativos fora do comum. Quase todas as casas foram renovadas e estão em bom estado. O único Senão é que a desocupação grande parte do ano porque cada vez há menos gente na aldeia.
O Vale da Srª da Póvoa é vizinho do Terreiro das Bruxas e está a 19km de Penamacor, a sede de concelho.
Os mistérios do Vale da Srª da Póvoa faz parte do podcast semanal da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
A emissão deste episódio, Os mistérios do Vale da Srª da Póvoa, pode ouvir aqui.
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