Sugestão da IP Património, empresa do Grupo Infraestruturas de Portugal, e da CP, Comboios de Portugal, com a colaboração de Andarilho, para assinalar o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, dia 18 de Abril
Património partilhado
Culturas partilhadas, património partilhado, responsabilidade partilhada
O caso da Estação de Vilar Formoso e do Museu Vilar Formoso Fronteira da Paz – Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes
A Estação de Vilar Formoso
Ao longo do século XIX definiram-se os eixos principais da nossa ferrovia e a maior intensidade de construção concentrou-se entre 1854 e 1891.
A década de oitenta culmina com a construção das linhas da Beira Baixa, Oeste, Ramal de Sintra, Ramal de Cascais, a inauguração da nova estação central do Rossio e a Linha da Beira Alta, esta pela segunda maior empresa ferroviária então a operar em Portugal, a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses da Beira Alta.
A construção da rede ferroviária nacional pautou-se, num primeiro momento, pela vontade de ligar a capital a Espanha e à Europa: pensava-se em Lisboa como o Cais da Europa, tendo a linha chegado à fronteira de Vilar Formoso a 3 de agosto de 1882. A estação foi inaugurada pela família real – o Rei D. Luis, a Rainha D. Amélia e o Príncipe D. Carlos.
Segundo o conceito tradicional, uma estação é o conjunto das construções existentes no recinto compreendido entre as agulhas de entrada e de saída de comboios, encontramos na Estação de Vilar Formoso, com perto de 600 metros de comprimento, um extenso património histórico e cultural que data das três épocas de exploração da rede ferroviária nacional – vapor, diesel e elétrica.
Nesta paisagem específica do caminho-de-ferro destacamos os seguintes elementos:
– O edifício de passageiros
– O edifício das instalações sanitárias
– O depósito de água com a toma de água incorporada
– Dois cais cobertos, antigos armazéns para guarda mercadorias com acesso ferroviário e rodoviário, servidos por um guindaste e aliados a dois cais descobertos, isto é, duas grandes plataformas sobrelevadas, que facilitavam as operações de cargas e descargas
Completa a paisagem, no exterior, o Largo da Estação, no qual se encontra, e do lado oposto ao edifício de passageiros, a antiga Alfândega.
O edifício de passageiros, de dois pisos e planta retangular longilínea, desenvolve-se ao longo de 60 metros de comprimento. Aqui se situam as bilheteiras, a sala de espera e espaços dedicados ao pessoal ferroviário. De referir alguns elementos arquitetónicos como a cobertura e beirados em telha vermelha, a colunata em pedra que sustenta o alpendre virado às linhas e os painéis de azulejos que animam todos os lambris deste edifício e o das instalações sanitárias.
São cinquenta painéis da autoria do pintor aguarelista João Alves de Sá (1878–1972), autor também dos painéis das estações de Rio Tinto e Estremoz. Foram produzidos na Fábrica de Cerâmica da Viúva Lamego e colocados nos finais da década de 1930, na sequência da grande intervenção de que o edifício foi alvo. Retratam paisagens e monumentos nacionais principalmente dos localizados ao longo da Linha da Beira Alta, em composições de branco, azul e amarelo.
Os azulejos, além dos painéis figurativos, enriquecem as vergas curvas das janelas e portas com elementos inspirados nos estilos barroco e rococó, numa solução aliás caraterística do período barroco.
Na fachada principal aparece a identificação da Estação – Vilar Formoso, a azul sobre fundo branco, numa cartela alongada, também formada por motivos do barroco e rococó, a azul e amarelo e é encimada pelo “Escudo da Nação”.
Um outro painel de grandes dimensões, o painel “PORTUGAL”, isolado no meio das linhas de entrada na estação, saúda quem vem de Espanha.
Através do Protocolo de Cooperação entre a ex-REFER e a Escola de Polícia Judiciária-Museu de Polícia Judiciária, a Infraestruturas de Portugal colocou a “Placa SOS Azulejo”, dissuasora de roubo e vandalismo de azulejos.
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Museu Vilar Formoso Fronteira da Paz – Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes
A história dos caminhos-de-ferro é também a história social e política dos territórios e das nações.
A Linha da Beira Alta assumiu-se desde sempre como a linha verdadeiramente internacional, do Sud Express, dos emigrantes e dos que procuraram refúgio.
Durante a II Guerra, a Península Ibérica acabou por escapar ao seu impacto inicial, mas e à medida que as nações europeias caíam face ao poder militar alemão, os judeus europeus foram empurrados para a fronteira de França com Espanha. Milhares de indivíduos tentaram obter o visto para entrada em Espanha e Portugal a fim de alcançarem um refúgio e a possibilidade de embarque para a América.
Um bom exemplo de Património Partilhado e de preservação e valorização do nosso património histórico e cultural ferroviário é o da ocupação dos referidos cais cobertos da Estação Ferroviária de Vilar Formoso pelo Museu Vilar Formoso Fronteira da Paz – Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes.
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