Peniche foi considerada há alguns séculos a “chave do reino” por via marítima e, por isso, é uma das zonas com mais fortalezas em Portugal.
A proteção natural da costa de Peniche é significativa e um apoio relevante para a função de defesa. Um exemplo é o deslumbrante Cabo Carvoeiro com as suas escarpas de dezenas de metros de altura e corroídas pela erosão.
Permitem uma vista espetacular e uma das atrações é ver os barcos que fazem a travessia até às Berlengas. Quando Peniche era uma ilha o o acesso marítimo fazia-se pelo local onde hoje fica a imponente Fortaleza de Peniche. Um pouco mais a sul está o forte da Consolação, onde desembarcaram os ingleses em 26 de Maio de 1589.
“O contingente inglês vem com o objetivo de auxiliar D. António, prior do Crato, a tomar Lisboa e a restaurar a independência nacional.” Conta ainda Rui Venâncio, historiador e coordenador da área da Cultura do município de Peniche que os militares ingleses foram “transportados numa esquadra muito extensa e liderada por um corsário muito conhecido, Francis Drake. Entram em território nacional por Peniche. Desembarcam no sul da península, junto à Consolação. A partir daí dirigem-se para Lisboa e ao fim de pouco tempo, acabam por sitiar o castelo de S. Jorge.”. É este desembarque que está na origem na construção das fortalezas na região de Peniche
“Em 1640, após a restauração da independência nacional, uma das grandes preocupações do Conselho de Guerra, criado na altura para apoiar o processo de fortificação de todo o território nacional nesta luta contra Espanha, acaba por identificar Peniche como a principal chave do Reino por acesso marítimo. Com o desembarque do contingente inglês percebeu-se que era fácil entrar em Peniche e facilmente chegar a Lisboa e, eventualmente, tomar a capital do reino. A partir dai, inicia-se um processo de fortificação deste território com a frente abaluartada que corresponde às muralhas de Peniche, com a construção da Fortaleza de Peniche e com o Forte da Consolação, próximo do local onde se deu o desembarque inglês.
Junta-se o Forte de S. João Baptista na Berlenga. É uma paisagem militar que se vai instalar aqui transformando Peniche numa verdadeira ilha fortificação.”
A Fortaleza de Peniche já reabriu ao público e está a ser instalado o Museu Nacional da Resistência e da Liberdade.
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Outra possibilidade de termos uma ideia geral das fortalezas é num passeio de barco. Por exemplo, a ligação às Berlengas que nos oferece uma excelente perspetiva das muralhas enormes e de como parte significativa da Fortaleza está rodeada de pedras e mar bravio.
Nas Berlengas um dos lugares mais fascinantes é a passagem estreita, um arco em pedra, que nos leva ao bonito Forte de S. João Baptista.
Recorro uma vez mais ao conhecimento do historiador Rui Venâncio: “a fortificação tinha como objetivo defender a ilha não apenas da coroa espanhola mas também de pirataria que atacava estas águas. Piratas do Norte de África que vinham com o objetivo de capturar pessoas para os mercados de escravos, e também pirataria francesa que foi muito forte e presente no século XVI.
A partir de meados do século XIX, com o fim da pirataria e a pacificação com Espanha, as fortalezas perderam a sua vocação militar.
O forte das Berlengas foi apoio da comunidade local de pescadores e hoje é uma das opções de alojamento na ilha. É soberba a vista.
A Fortaleza de Peniche foi uma das prisões políticas do estado Novo. Após a Revolução albergou alguns espaços museológicos e aguarda-se a sua abertura como museu acional.
A Fortaleza foi declarada Património Nacional em 1938 e pode ver mais informação aqui.
No património local ficou também a expressão Amigos de Peniche e que tem origem nos ingleses que desembarcaram em apoio do Prior do Crato e que não tiveram sucesso.
Bem pelo contrário, a maioria eram corsários e realizaram várias pilhagens. Hoje esta história é evocada através da doçaria.
Peniche a chave do reino por mar faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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