O Mira é um dos poucos rios em Portugal que corre para Norte. Tem 130 km de extensão, entre a serra do Caldeirão, no concelho de Almodôvar, e a foz em Vila Nova de Mil Fontes.
Atravessa a planície amarela, também chamada de estepe cerealífera, e os últimos 32 km, de Odemira até à foz, fazem parte do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e da Costa Vicentina.
Sensivelmente a meio do seu percurso contribui para um dos maiores espelhos de água do Alentejo. A albufeira de Santa Clara. Do alto do monte da pousada percebemos como é um paraíso em particular no Verão.
Além da praia fluvial e de dois trilhos pedestres, na opinião do técnico de turismo Nelson Reis, “é excelente para a pesca lúdica, em particular o achigã. Também se podem fazer passeios de barco. Há operadores turísticos na albufeira.”
Em Odemira o rio que associa o nome à vila mostra-se prazenteiro e a ponte pedestre incentiva a caminhadas e a descobrir novas perspetivas. Do rio e do casario.
São vários os afluentes do rio Mira mas a água é cada vez menos o que aumenta a quantidade de água salgada no estuário e altera o meio ambiente. Uma das consequências “foram as enguias que abundavam e praticamente desapareceram devido à diminuição de água doce”.
A descrição é de António Francisco, mestre de uma embarcação tradicional, a Maresia, que é usada para transporte de passageiros e para a pesca. Um dos percursos que costuma fazer é de Vila Nova de Mil Fontes a Odemira e que nos é descrito por José Mário que tripula outra embarcação.
“A água é limpa, o rio vai estreitando e vamos percebendo o efeito dos afluentes de água doce. Altera-se a vegetação e é mais diversa. Há muita gente que vem fazer observação de aves. Algumas aves são migratórias e as que se vêm com maior facilidade são a garça-real e o falcão peregrino.”
A grande quantidade de aves é um dos atrativos dos últimos quilómetros do rio Mira. Algumas são migratórias outras andam por aqui regularmente como as dezenas de patos em Odemira ou as centenas de garças-reais próximo da foz.
Adianta o mestre António Francisco que “ muitas vão para o sapal e ao final da tarde, ao por do sol, regressam às rochas junto ao mar e na ilha do Pessegueiro. De madrugada voltam para o estuário e há muitas aves até Odemira. Pombos, gaivotas, corvo-marinho, garças-reais, maçaricos….”
Outra espécie abundante, mas que não se deixa ver com facilidade, é a das lontras. Ficamos a saber da sua passagem pelo rasto de comida no cais. “Todos os dias encontra aqui e no outro cais sinais de que elas estiveram a comer chocos e polvo que capturaram. São muitas lontras. Ainda bem que a água é limpa.”
As lontras e as aves conhecem bem o ritmo e a riqueza do rio e o mestre também: “Na Primavera e na maré vazia há muita comida e as aves vêm para aqui. Mas não só. Chocos, polvos, douradas, sardinhas… vêm desovar ao rio. Funciona como uma maternidade que depois alimenta o mar.”
Ainda na opinião do mestre António Francisco a melhor altura para se descobrir o rio Mira junto à foz é na Primavera e nos meses de Setembro e Outubro.
Rio Mira – “uma maternidade que alimenta o mar” faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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