Janarde é uma pequena aldeia do concelho de Arouca que preserva fortes traços do universo rural e está num lugar isolado. Serras cercam o vale. Estamos rodeados de natureza. Fora do pequeno espaço urbano os únicos vestígios da intervenção humana são os cabos de transporte de energia eletrica e o serpentear da estrada. Quem define o caminho da rodovia são cerca de uma dezena de casas de xisto. Muitas têm telhados de lousa.
A capela de São Barnabé e o coreto destacam-se porque estão caiados de branco.
O som do vento e do rio Paiva, que passa despercebido no vale, preenchem o vazio, mesmo em termos humanos. Quando visitei Janarde tinha tinha apenas um residente permanente. “Agora só há um morador e quando morrer não fica aqui ninguém.
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É uma freguesia bonita. Tem aqui estas casas mas está tudo sem ninguém.” O lamento é de Carlos Pereira. É desta freguesia, nasceu em Meitriz que fica a cerca de 5km.
Encontrei-o com a mulher em Janarde, junto ao muro de xisto com vista para o rio Paiva. “É bonito o rio Paiva. Aqui faz estas curvas, estas ilhas. Isto é um espetáculo. Esta paisagem, as serras, o vale é muito bonito. Fazemos duas festas ao ano, junta-se muita gente. Vêm pessoas de fora que gostam de ver estas aldeias antigas e é bonito.”
É mais o valor afetivo que não se quebrou ao longo dos últimos 70 anos. “Nós fomos criados aqui e chegamos aos 14,15 anos e começamos a ir embora. Porque aqui queremos dinheiro e não temos. Há cinquenta anos atrás saiu tudo daqui. Uns para Lisboa, outros para o Porto, Santa Maria da Feira e também para o estrangeiro. Saímos todos daqui. Os de antigamente, os tios, pais, vizinhos… começaram a morrer de velhos, é normal. Todos nós vamos passar por aí e não fica aqui ninguém.”
A paisagem, os campos sem cultivo, as casas que esperam pelo uso, o silencio, ….é também a história de Carlos Pereira e de muitos outros que nasceram aqui. No alinhamento da história o presente não esquece imagens que marcam vidas.
“Vivi em Meitriz até aos 15 anos. Depois saí. Andei descalço quase até essa idade. Eu dizia para mim, “não, eu vejo outros com sapatos” e decidi também sair de casa e fui servir. Fui para Santa Maria da Feira onde estive alguns anos, Casei e embarquei para Zurique. Em 1974. Foi também uma vida difícil mas tivemos de fugir daqui. Os nossos pais não nos deixaram morrer à fome, mas passámos fome. Passámos fome nestas aldeias.”
As famílias eram grandes e viviam da agricultura . “Era tudo cultivado. Hoje está tudo assim como vê. Terras a monte. Hoje não dá. Vale mais só ganhar vinte euros por dia do que estar a fazer uma grande quinta. Porque, temos de estrumar, usar um trator, semear o artigo, regar e depois recolher… não compensa. E não há pessoas. Vamos semear o dinheiro para trazer isto bonito, não dá.”
Os terrenos em volta da aldeia têm alguns socalcos que foram usados para a agricultura e vêm-se algumas árvores de frutos. São os poucos vestígios que restam da agricultura, a par das casas de arrumos e para guarda de animais que ainda mantêm as divisórias de madeira. Outras estão ao abandono.
Mas também há casas de habitação recuperadas.
Carlos Pereira vem, por vezes, às festas de Janarde que se realiza ao lado da igreja. “Tem missa de 15 em 5 dias. Ainda se fazem aqui umas festas boas, vêm aqui alguns conjuntos. Nós ainda não deixamos isto tudo abandonado. O padre é de outra freguesia, perto da vila de Arouca. Vem 20km a fazer a missa aqui.
Esta é a distancia de Janarde à sede de concelho. No caminho para Arouca tem de parar na estrada e ver a fotografia completa:
o rio Paiva, sereno, a refrescar as encostas das serras e a aldeia a descrever uma linha junto à estrada e envolvida por um ambiente natural.
Janarde de pura natureza junto ao rio Paiva e no meio de serras de Arouca faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
O Vou Ali e Já Venho tem o apoio: