Fajão tem o encanto de muitas outras aldeias de xisto e não tem o inconveniente de excesso de visitantes no Verão. Um dos motivos é porque está escondida na serra do Açor, a meio caminho entre Pampilhosa da Serra, a sede de concelho, e Arganil.
O próprio acesso a Fajão já merece uma viagem. Por exemplo, no caminho com ligação a Arganil, encontramos paisagens fabulosas da serra do Açor. Encostas que mergulham em vales profundos. As serras cobertas de verde e as linhas castanhas traçadas por caminhos e pela estrada a serpentear as encostas são dos poucos sinais de intervenção humana.
Esta é uma das zonas mais esquecidas do centro de Portugal, mas uma renovação urbana realizada em Fajão, em 2003, (quando da integração na rede das Aldeias de Xisto,) deu-lhe uma nova graça, descrita por Cláudia Simão que nasceu e vive em Fajão.” Veio o dinheiro da União Europeia para restaurar as casas por fora. Deram uma pequena percentagem e as pessoas custearam o resto. A muitas casas brancas tiraram o reboco. As que se vêm agora em pedra eram rebocadas. Antigamente a casa de pedra era sinal de pobreza. Agora é ao contrário. O chão também não era assim. Também arranjaram o piso com estas pedras porque antigamente era tudo em cimento. Noutros sítios colocaram lousa como foi o caso da nossa praça.”
A maior parte das casas têm dois ou três pisos. O tom castanho e ocre do xisto faz sobressair as flores colocadas em vasos na rua ou pendurados nas varandas.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=X6bQYdupnCw]
A aldeia estende-se pela encosta da serra e as ruas são inclinadas, outras têm escadas.
No ponto mais alto da aldeia estão as piscinas ao ar livre.
Alongam-se num socalco da encosta. São o terraço de Fajão com vista para o casario e as serras. “É uma mais valia no Verão porque parece que estamos numa cidade lá em cima, mas no meio de toda esta natureza”.
O adro da igreja matriz é o ponto de confluência da aldeia. A igreja é dedicada a N. Sª da Assunção e próximo tem a Fonte Velha, que ainda deita água, e um freixo cuja sombra é aproveitada essencialmente pelos mais idosos. A população permanente ronda meia centena de pessoas e os mais novos estão quase todos empregados.
“O Lar da Santa Casa emprega as raparigas da aldeia e não só, vêm outras de fora também. A Junta de Freguesia de Fajão emprega alguns homens dessas moças, temos ainda o destacamento dos bombeiros, há cerca de um ano, que dá emprego a dois funcionários e voluntários. As pessoas da aldeia têm todas emprego e atividades dentro da nossa aldeia, o que é muito bom.”
Muitas destas atividades pouco têm a ver com a rotina do passado dominada pela agricultura. “Sim. Era do que vivíamos. E muito gado. Estes terenos em volta eram cultivados. Estávamos sempre a colher o que produzíamos. Era batata, depois era a altura da palha em setembro. Recordo-me muito bem. Vinha a trovoada e tínhamos de ir a correr para apanhar a palha. Ainda não havia estas estradas de alcatrão. E era lá no fundo. Era uma festa para nós. Íamos buscar os molhos de palha para trazer para aqui, para os currais, que era para depois darmos ao gado durante o Inverno.”
Um dos ilustres de Fajão foi Monsenhor Nunes Pereira que se destacou pela sua capacidade criativa e o apreço pelo património imaterial. Produziu esculturas, pinturas e xilografias. Parte do seu trabalho está no Museu com o seu nome no Seminário Maior de Coimbra. Alguns dos seus trabalhos também podem ser vistos no Museu de Fajão, que lhe é dedicado.
O edifício em xisto e madeira tem dois pisos e mostra ainda os primeiros telefones da aldeia, faiança antiga, instrumentos de carpintaria e mobiliário de uma casa tradicional da serra do Açor.
Mesmo em frente está outro museu dedicado ao Rali de Portugal.
Quem tiver vontade pode ler os Contos de Fajão. São contos populares e uma das personagens que se destaca é o juiz. A ironia, a ingenuidade ou a astucia do saber popular dão origem a histórias como ir todos os dias ao outro lado da serra buscar a manhã, ou ir a Coimbra à procura da verdade e trazê-la dentro de um pote.
O envolvimento natural da aldeia pode também ser aproveitado para percursos pedestres. Há, por exemplo, dois que vão entre os 4 e os 6 quilómetros e que “eram usados antigamente pelos nossos bisavós e avós para irem para os terrenos, guardarem o gado. Hoje em dia são caminhos pedestres. É muito bonito.”
Para a descoberta de outros lugares em Fajão, Cláudia Simão sugere ainda “um caminho romano, todo em pedrinhas, e é muito bonito. O rio Ceira com lagos naturais e onde nos podemos banhar como por exemplo o Poço da Cesta. É um sítio muito lindo.”
A caminho desta piscina natural no rio Ceira, no Casal Novo, tem de parar no alto da encosta e contemplar Fajão. Como a aldeia se protege do vento. Repare também nas cristas quartzíticas no topo da serra. Há milhares de anos que desafiam outros elementos da natureza para protegerem o vale onde Fajão se refugiou.
Fajão da serra do Açor faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
Roteiros das Aldeias do Xisto
O Vou Ali e Já Venho tem o apoio: