Ponto prévio: é preciso esquecer mapas, gps… e confiar na estrada, que nos vai levar a algum lado. Estamos nos confins de serras e lugares sem gente e o importante é desfrutar do devir, da paisagem selvagem.
Percorrem-se quilómetros sem se ver gente, sem carros, a vista está despoluída. Somos esmagados pela Natureza.
Andamos entre a serra de Montemuro e da serra da Arada, pelo territóio do Arouca Geopark, a caminho de Meitriz.
Mas, primeiro, passamos por Barco, ou Além Barco, junto ao rio Paiva. Uma descida íngreme e curvas apertadas. A estrada, que já é estreita, é obrigada a emagrecer para passar entre muros de xisto.
O lugar tem meia dúzia de casas. Muitas foram renovadas ou construídas de novo e com aprumo. As paredes são de xisto e o telhado de lousa.
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Algumas das habitações estão rodeadas de oliveiras e árvores de fruto. Foi aqui que encontrei Rui Brandão. “Só há quatro moradores permanentes. Em alguns fins de semana junta-se mais pessoal. O local é muito bonito. Não tem nada a ver com a cidade.
Por causa disso é que nós, eu e o meu pai, viemos da cidade para aqui. Temos outra perspetiva da vida.”
Uns metros depois descobrimentos o segredo de Barco e a origem do nome.
O rio Paiva passa junto das casas e antes de uma ponte, construída em 2001, temos de parar para refrescar em água límpida. Algumas pedras e pequenos declives dão voz à água que ecoa pelo vale. Só no Verão é que surgem outros sons. Nas outras estações “é um sossego. Só é mais agitado no Verão. Mas, também é bonito ver as pessoas aí a passar.
A praia fluvial costuma ter muita gente. Estacionam dezenas de carros até à curva no topo da encosta.” Rui Brandão refere ainda que a praia fluvial já tem alguns anos, “parece uma praia natural. É uma coisa que fizeram em condições.”
Toda a área é arborizada e tem uma zona de descanso com mesas e um bar.
Carlos Pereira desde miúdo que conhece o rio. Para apanhar o barco e atravessar o Paiva, antes da construção da ponte, ou para uma “banhaça” e diz que não há igual nesta região. “A melhor zona para as praias do rio Paiva é o lugar de Meitriz. As aldeias de Meitriz. São poços que não têm fragas, não é perigoso. Ali é tudo areia original, cascalho… Ao olharmos à banhaça, na aldeia tomar banho é a banhaça da água, temos quatro poços espetaculares. Não é perigoso, podemos andar debaixo da água, ir ao fundo, não é nada perigoso.”
Esta é a terra natal de Carlos Pereira mas teve de emigrar.
“Vivi em Meitriz até aos 15 anos. Depois saí. Andei descalço quase até essa idade. Eu dizia para mim, “não, eu vejo outros com sapatos” e decidi também sair de casa e fui servir. Fui para Santa Maria da Feira, andei ali alguns anos. Depois, casei e embarquei para Zurique, em 1974. Foi também uma vida difícil, mas tivemos de fugir daqui. Os nossos pais não nos deixaram morrer à fome, mas passámos fome. Passámos fome nestas aldeias”
A agricultura e a pecuária são também as fontes de subsistência de Rui Brandão. “algumas das árvores eram de avós de pessoas que viviam cá. Outros, como por exemplo o meu pai, apostámos numa plantação de mirtilos. Temos ainda umas oliveiras para dar o azeite para o ano.”
Para chegarmos a Meitriz temos de subir a outra encosta, após travessia da ponte do rio Paiva.
A aldeia fica num desvio da estrada. Passámos a meio da tarde e não vimos uma única pessoa.
Tal como em Barco todas as construções são de xisto e destaca-se um canastro que está apoiado em muros e casas e por baixo passa a rua da Azenha.
Nesta parte da aldeia há ainda pequenas construções abandonadas, mas, um pouco mais acima há algumas que estão a ser recuperadas pelo que se percebe dos materiais dispostos no quintal.
Ao todo devem ser uma dezena de casas e estão alinhadas no alto da encosta, com uma vista ampla.
Passam por aqui alguns percursos pedestres, como por exemplo o das Tormentas e uma das aldeias que fica próximo é Regoufe, conhecida pelas minas de volfrâmio na II Guerra Mundial que chegaram a ter quase mil mineiros.
A outra aldeia próxima é Janarde que durante muito tempo foi a sede de Junta de Freguesia e onde voltamos a encontrar o rio Paiva.
Meitriz e a praia fluvial de Além Barco nas terras de ninguém de Arouca faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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