Da primeira vez que lá fui, num dia frio de Inverno dos meus dezassete anos, impressionou-me a fúria da corrente do rio, a abundância de aves que pelo tamanho me pareciam irreais, e, porque cenários daquela grandeza, só os conhecia do cinema.
Voltei lá no final dos anos 60 e foi uma decepção: em vez de águas revoltas dei com um rio domado, a barragem de Saucelle a incomodar a vista.
Desde então, contento-me com vê-lo de longe, imponente, dominando a paisagem, e assim guardo o sentimento de como me espantou”.
Trás-os-Montes, o Nordeste; J. Rentes de Carvalho
O miradouro de Penedo Durão, próximo de Freixo de Espada à Cinta, é dos mais conhecidos porque revela perspetivas do rio Douro difíceis de encontrar nesta região de Trás os Montes.
Habitualmente o rio corre encaixado entre profundas escarpas, mas aqui não. É um espaço aberto, com amplas vistas.
“Bastante mais aberto e, além disso é também a forma como conseguimos ver o rio. Hoje, por exemplo, com este dia bonito, conseguimos ver o rio espelhado. É algo que é bastante bonito.” A opinião é de Mário Pinto que repetia a visita ao Penedo Durão.
Contemplava a albufeira da barragem espanhola de Saucelle, com as águas calmas. É um bom espelho das nuvens. Por outro lado, como estamos a grande distância do rio, temos uma vista ampla e conseguimos ver uma larga extensão da albufeira.
Mas não só. Mário Pinto viajou de propósito do Porto até ao Penedo Durão para ver aves de rapina que aproveitam o vale profundo e quase inacessível ao homem, “sim, um pouco devido aos abutres, pela paisagem natural que é fantástica, pela paz de espirito que se passa aqui, ouvir os pássaros e também fugir da cidade. Acaba por ser um pouco diferente.”
O miradouro fica no topo de um enorme rochedo, com uma varanda para o Douro e a fronteira com Espanha. Estamos a mais de meio quilómetro de altura em relação ao caudal do Douro e do Huebra, um outro rio, proveniente de Espanha. O vale é de tal forma profundo que, frequentemente, estamos mais alto que o voo das aves de rapina. Além do abutre do Egipto, andam por aqui o grifo e o falcão peregrino.
No dia da minha visita, a meio da tarde, o vale era exclusivo de meia dúzia de aves. Mário Pinto teve mais sorte na primeira vez que visitou Penedo Durão. “Da outra vez eram capaz de ser 30 a 40 abutres a voar ao mesmo tempo, em remoinhos… isso foi bastante bonito. Eu acho que tem também a ver com os horários. De manhã e ao final da tarde, por causa da caça, da procura de alimentos, eles estão mais ativos. Foi fantástico.”
A observação das aves é um dos motivos da passagem de muita gente por Penedo Durão. Mas a maioria é atraída pela paisagem. Depois do vale com o rio, a paisagem é dominada pelo cume de montanhas que formam um planalto aveludado e que esconde uma natureza rude e inóspita. A muito custo foi moldada pelo homem com a oliveira e a vinha.
Uma observação certeira de Mário Pinto chama a atenção para outro aspecto da Geografia: “além do Douro é também perceber estas terras. Do outro lado do rio é Espanha e, se formos ver, somos iguais. Em termos de região, do terreno e da geografia.
São realidades muito idênticas e são também paisagens a perder de vista como se costuma dizer. É fantástico. É um dos pontos onde provavelmente conseguimos ter esta visualização mais extensa no Douro. Não é o único, mas é certamente um dos poucos onde é como se estivéssemos numa planície.”
O penedo Durão tem várias zonas de descanso, está arborizado e as rochas oferecem recantos e outras perspetivas do vale e do rio Douro. O acesso pode ser feito por uma estrada em direção a Poiares que, nas proximidades, tem outro miradouro, com vista para Barca d’Alva.
A Estrada nacional 221, que liga Barca d’Alva a Freixo de Espada à Cinta, oferece interessantes vistas do Douro e das quintas com vinha que dão cor às encostas de xisto. A estrada passa ao lado da base do rochedo onde está o miradouro e fica logo com a noção da altura que vai subir.
Miradouro do gigante Penedo Durão faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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