Colcurinho, na serra do Açor, está desabitada há 7 décadas, mas todos os anos, em meados de Janeiro, o povo regressa à aldeia. Repetem o ritual de pedirem a proteção de Santo Antão. É o padroeiro local e a capela é o único edificio que não está em ruinas.
A capela remonta ao século XVI, está pintada de branco e destaca-se das outras construções, todas em xisto.
Algumas estão próximo da ribeira e da ponte em xisto, outras dispersas na encosta norte do Monte de Nossa Senhora das Necessidades, hoje mais conhecido como Monte do Colcurinho. O nome terá tido origem neste povoado, habitado até à década de 50 do século passado como nos explicou Basilio Martins – “tem a capelinha de Santo Antão e uma fonte em xisto.
Pertenceu a dois concelhos, Penalva de Alva e Lourosa. A divisão era o ribeiro que passa a meio. Neste momento está desabitada, em ruínas . A única coisa que foi recuperada é a capelinha de Santo Antão que tem o seu culto a 17 de Janeiro.”
Ainda no testemunho de Basilio Martins, que recebe os visitantes no vizinho santuário de Nossa Senhora das Preces, a festa é organizada por pessoas de Chão Sobral que fica ao lado do Colcurinho.
“A comissaõ de festas é a mesma da capela de Chão Sobral. Compram um porco e fazem em Colcurinho um almoço.
Mantêm a tradição. Santo Antão é o padroeiro dos animais e as pessoas ofereciam o rabo do porco, uma orelha, queijo, ovos para o santo proteger os animais, para evitar que tivessem doenças.”
Na atualidade a pastoricia é apenas uma memória. São poucos os animais que andam por aqui. Os sucessivos incêndios arrasaram a fauna e a flora.
Em Colcurinho ainda vemos árvores calcinadas pelos últimos fogos, embora o tom verde do manto que cobre a encosta comece a dominar.
Resiste a ponte de xisto por onde passamos a pé, ao lado da capela e do moinho de água. O som da ribeira junta-se ao assobio do vento que inunda as casas sem teto, portas ou janelas e com poucos vestigios do uso.
“Os idosos foram morrendo e as gerações seguintes mudaram-se para a aldeia de Chão Sobral, que tem melhores acessos.”
Colcurinho fica a algumas centenas de metros de Chão Sobral e facilmente se identifica ao lado da estrada. O acesso rodviário é fácil e faz parte de um roteiro notável.
Piodão fica a 16km, a mesma estrada leva-nos ao alto do Colcurinho, um dos melhores miradouros da serra do Açor, a 1242 metros de altitude e que tem a capela de Nossa Senhora das Necessidades. Mais próximo da aldeia está o bonito santuário de Nossa Senhora das Preces e a 10km fica a sede de Freguesia, Aldeia das Dez.
A FESTA DE SANTO ANTÃO
A festa de Santo Antão,
No lugar do Colcurinho,
Era missa e leilão,
Quando eu era rapazinho.
Dos arredores acorriam,
Mulheres, homens não tanto,
De o porco chegar ao dia,
A trazer a língua ao Santo.
Mais um pé, uma chouriça,
Ou carne já amarela,
A meter pouca cobiça …
Tudo, dava cestas dela!
E não ficava por vender,
Até cestas por inteiro.
Bastava lá aparecer,
Um certo homem grosseiro!…
Minha bisavó do Vale d’Água,
Era o único colorido:
Com traje sem mostrar mágoa,
E lenço branco florido!
“Histórias, Lendas e Contos do meu Chão“, Livro de José Ramiro Moreira
Fonte: Chão Sobral
A festa que mantém viva a aldeia de Colcurinho faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:
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