O único café produzido na Europa é na ilha de S. Jorge e se quiser prová-lo tem de ir aos Açores. Provavelmente ao Café Nunes, na fajã dos Vimes, ou na casa de um produtor que o cultiva exclusivamente para consumo familiar.
É uma produção muito reduzida. “De autossustentação, ter uma coisa diferente, o seu próprio café”. Nas palavras de Manuel Brasil, engenheiro agrónomo, são estes os motivos porque pequenos produtores da Ilha de S. Jorge dão continuidade à plantação de café.
Manuel Brasil acrescenta que é vulgar encontrarmos pequenos cafeeiros, mas apenas numa parte da ilha. “Nas zonas baixas, das fajãs, como a Fajã do Vimes, Fajã das Almas, Fajã de S. João. Só nas fajãs da costa sul. Na costa norte já não dá porque o clima não é propicio à sua plantação.”
As fajãs são terrenos planos, um pouco acima do nível do mar. Ficam comprimidas entre enormes escarpas e o oceano e são terrenos muito férteis.
É na Fajã dos Vimes, na traseira do Café Nunes, que encontramos a maior produção de café. Por ano ronda os 150 kg.
No rés do chão, onde se encontra o estabelecimento, podemos provar o café de S. Jorge absolutamente puro. “Aqui não há aditivos. O café que se bebe em S. Jorge é produzido nos cafeeiros. Trabalhado à mão até ser preparado para ir para a máquina de café.100% natural e neste momento 100% artesanal”, afiança Manuel Brasil que vive na ilha há vários anos.
Este é um dos motivos porque é reduzida a produção, “nunca tivemos produções de toneladas, mas podíamos ter produções mais significativas. Não temos condições para o produzir porque, talvez, nunca houve incentivos, orientação de se poder produzir e comercializar. Há um problema que temos em S. Jorge que é o café ser tratado artesanalmente.
Desde a colheita à mão até à descasca. Não temos máquinas industriais, apenas pequenas máquinas”. Mesmo assim, Manuel Brasil refere que a produção de café seria apenas uma atividade de rendimento complementar às famílias.
Estão ainda por conhecer as potencialidades do café, embora, seja fácil de perceber que tem características que o diferenciam dos restantes. “O microclima e o terreno dá ao café de S. Jorge carateristicas diferenciadas e que se notam no sabor. O café que em termos gerais se bebe em Portugal ou noutros países, é um café lotado. São lotes de várias proveniências que criam um determinado tipo de café e melhoram o gosto. O de S. Jorge nunca foi estudado nem loteado com outras variedades.”
O café foi introduzido nos Açores no século XIX por um emigrante regressado do Brasil e pouco tempo depois entrou na economia familiar e no circuito afetivo da emigração. “Era uma cultura estimada pelas pessoas que tinham a possibilidade de o cultivar porque era o café da terra. O café da ilha era considerado de qualidade. Era também um café da saudade. Levavam para a América e bebiam, brindavam com os amigos com um café de S. Jorge.”
Se quiser provar o café na Fajã dos Vimes tem ainda a descoberta de centenas de notas de todo o mundo coladas na parede do café e no piso superior a produção das colchas tradicionais de S. Jorge.
Café de S. Jorge: a única plantação na Europa é 100% natural e artesanal faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
O Vou Ali e Já Venho tem o apoio: