Há edições notáveis onde registamos a mestria da escrita e o traço inesquecível do ilustrador que nos guia na imaginação.

Ilustração de Abel Manta em Dinossauro Excelentissimo

Um dos exemplos mais marcantes na literatura portuguesa das últimas décadas é Dinossauro Excelentíssimo de José Cardoso Pires com ilustrações de João Abel Manta.
Contudo, a maior parte da vezes sobressai o escritor e esquecemos a autoria do trabalho gráfico que, não raramente, é quem primeiro capta o nosso olhar, com a ilustração na capa.
No concelho de Mora temos a Casa Museu Manuel Ribeiro de Pavia (fica ao lado da anta-capela) que procura preservar o espólio de um dos mais notáveis artistas do neorrealismo português.
Foi, provavelmente, um dos melhores ilustradores, com imagens que estão na primeira fila do nosso imaginário.

Em particular sobre o Alentejo e a mulher alentejana, “gorda, pachorrenta e com o lenço na cabeça. É hoje uma imagem com muita relevância no meio cultural.”  A descrição é de Luís Matos, presidente da Câmara de Mora.

O traço arredondado dos corpos que os projetam num movimento firme, as sombras que marcam a tristeza e o olhar semicerrado marcam-lhe um estilo pessoal e um valor que só foi reconhecido após a sua morte em 1957.

Seguindo as palavras de Luis Matos, “Manuel Ribeiro de Pavia viveu na altura do neorrealismo, conviveu com imensos escritores de relevo, nomeadamente o Alves Redol. Ele fazia ilustrações  para muitas obras literárias que foram publicadas na altura.”

Manuel Ribeiro de Pavia morreu em Lisboa, no dia em que fazia 50 anos. “Levou-o uma pneumonia que o foi encontrar depauperado por uma vida quase de miséria. Passava fome!” O relato é do poeta Eugénio de Andrade.

Há muitos outros nomes relevantes da poesia e da literatura portuguesa cujas obras foram ilustradas por Manuel Ribeiro. Cito ainda Carlos de Oliveira, José Gomes Ferreira, Ferreira de Castro, Manuel da Fonseca e Fernando Namora que durante alguns anos foi médico em Pavia, a terra natal de Manuel Ribeiro e onde se encontra a Casa Museu.

Nos dois pisos podemos observar “muitas obras que a Câmara ao longo dos anos foi adquirindo e outras que nos foram oferecidas. Temos muitas capas de livros e imagens. O espólio dele é enorme. O que está ali é apenas uma amostra daquilo que foi a sua obra.” Ainda no testemunho do presidente do município de Mora, “a maior parte do seu espólio está nas mãos de colecionadores privados. Um grande apreciador da sua arte era o Dr. Mário Soares. Tinha muitas peças do Pavia, era assim que os seus conterrâneos o tratavam e o acarinhavam.”  

É fascinante o traço e a força que imprime às figuras desenhadas nas cerca de duas dezenas de pinturas que estão em exposição. Pelo que conta Eugénio de Andrade, a firmeza não era apenas no traço das pinturas e ilustrações: “pagou as rebeldias, a independência, o orgulho de ser livre à custa de renúncias e privações”.

Ver:
algumas ilustrações  e listagem de publicações.

O traço firme do ilustrador Manuel Ribeiro de Pavia faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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