Hoje, 1 de Fevereiro, é o Dia Mundial da Leitura em Voz Alta e a data foi assinalada com o espetáculo ABSURDEZ (isto não faz sentido nenhum) produzido pela Andante Associação Artística, em parceria com o Clube de leitura em voz alta Clevinhas da EB Professor João Dias Agudo, Agrupamento de Escolas de Venda do Pinheiro, Mafra.
A data serve também de pretexto para o Vou ali e já venho revisitar a Andante Associação Artística que tem uma vocação muito singular: incentivar-nos a ler, a procurar o prazer da leitura. Cristina Paiva e Fernando Ladeira ganharam em 2019 o Prémio Ler+.
Uma justa distinção por andarilhos que percorrem o país à procura de novos donos para as palavras que só existem quando ganham a vivência de um leitor ou de ouvinte. Na rádio, no teatro, num livro, na narração oral….
A Andante Associação Artística há 20 anos que anda a contar histórias para “públicos muito diversos. Temos a ideia de que temos de ir ao encontro das pessoas que não estão ainda predispostas para gostar de ler, que não têm esse hábito. Ir ao encontro delas para as seduzir. O nosso trabalho é de sedução” argumenta Cristina Paiva.
Uma outra forma de sedução é através do prazer da expressão oral. O jogo dos sons, da entoação, do ritmo… e da conjugação do individual com o coletivo, como sucede com o CLeVA, o Coro de Leitura em Voz Alta de Alcochete.
É também uma outra faceta dos recursos que utilizam. Juntam as palavras da poesia e dos contos, emprestam-lhes um rosto e colocam em cena uma arte e todas as estratégias para seduzir as pessoas a ler.
“Nós enfeitamos as coisas. Muitas vezes fazemos espetáculos, mas não dizemos que são de promoção de leitura. Referimos que é um espetáculo especial. Outras vezes, para bebés, somo apresentados como um espetáculo de música para bebés e tem poesia de Fernando Pessoa. Também têm música, também são de teatro. Tentamos usar alguma surpresa porque as pessoas têm este preconceito contra a leitura, acham que é difícil, que não conseguem, não tiram prazer ou vantagem da leitura. Refugiam-se nas suas dificuldades.” Acrescenta Cristina Paiva que, para ultrapassar estes preconceitos, “tentamos apanhar as pessoas desprevenidas”.
Com alguma facilidade e frequência verificam se foi eficaz a estratégia de sedução. “A maior parte das vezes a reação é de uma grande emoção. Emocionam-se muito. Não quer dizer que saiam a chorar dos espetáculos. Por vezes sucede, outras vezes riem-se muito. Mas principalmente identificam-se com aquelas palavras e subitamente aquelas palavras têm alguma coisa a ver com a vida delas e quando nós encontramos alguém que nos compreende bem, que conta melhor do que nós a nossa história isso, é algo que nos puxa para cima, que nos leva mais longe.”
A emoção também é vivida em outros momentos desta experiência de 20 anos e que fica marcada com reencontros. Cristina Paiva diz que já houve muitos e há “alguns especiais, um pouco dolorosos, que são o público das prisões. Nós fazemos espetáculos para reclusos e há reclusos que nos conhecem. Quando digo que é doloroso é porque passaram três anos, nós regressamos à prisão, e aquela pessoa continua no mesmo lugar e diz “ah eu vi, eu lembro-me, eu tenho o livro”. Estes reencontros são muito emotivos para eles e para nós.”
Este reconhecimento e a importância do trabalho que desenvolvem foi distinguido com o Prémio Ler+ do Plano Nacional de Leitura. É mais uma faceta do prazer que sentem quando despertam alguém para a leitura. Cristina Paiva pormenoriza que “o grande prazer é quando se dá o encontro com o público, quando se dá essa identificação com o público. Quando a gente vê a cabeça dos bébes a abrir e a descobrir novas coisa, quando a gente vê uma pessoa a dizer “eu conhecia esse poema, mas não sabia que era assim” ou “isso é de que autor?”. Quando há alguém no final que pergunta “aquele texto dito é seu? Não é de um autor, está num Livro. Qual é o livro?”. Quando isto sucede ganhámos o dia. Às vezes basta um.”
A Andante está sediada em Alcochete e, tal como as outras companhias ou contadores de histórias itinerantes, temos de ser nós a procurá-la. “O modo mais fácil de nos encontrar é na Internet, na nossa página. Nós não temos uma sede. Nós trabalhamos com os projetos dos outros, digamos assim, com as bibliotecas públicas, das bibliotecas escolares, das creches, das prisões. Nós integramo-nos nos serviços educativos os museus, das escolas, etc. Vamos a muitos sítios, andamos pelo país todo e, por vezes, também fora de Portugal. Somos Andantes, também por isso, literalmente.”
Andante à procura do prazer da leitura faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.