Hoje, 3 de Maio, é dia de Santa Cruz e dita a tradição que as raparigas vão ao castelo de Penha Garcia com uma boneca a que chamam Maia, não tem olhos, nariz, nem boca e é vestida com roupas que lhe dão um ar de menina. Nos tempos mais antigos, no castelo, as raparigas viravam a boneca para a planície e gritavam Viva a Maia do Castelo.
Cumprido o ritual no castelo as raparigas regressam a casa e a Maia fica todo o mês à janela.
A tradição tem origem “nos celtas. Não é de avós. No dia 3 de maio, que é o dia de Santa Cruz, as raparigas vestiam as bonecas que é feita numa cruz, é a parte religiosa, com as roupas de bebe dos irmãos mais novos.
Segundo a tradição a Maia é vestida de bebe” adianta Josefina Pissara que fez um levantamento sobre estes rituais.
Um dos motivos porque a boneca era colocada à janela boneca visava afastar as trovoadas. “Sim, aqui havia muitas trovoadas. Não havia para-raios, muita gente morria.” No entanto, o receio era “as searas. Os campos estavam repletos de searas e no mês de Maio já estavam grandes e a espiga mais ou menos formada.
A chuva das trovoadas, como era muito forte, derrubava as espigas e as pessoas ficavam sem dinheiro para o inverno. Era das searas que pagavam a renda do terreno. O trigo ou o centeio, normalmente era o centeio, servia ainda de alimento da família.”
O ritual tem hoje alguma expressão, mas muito menos do que no passado. Deixou de haver a rotina de todos os anos se fazer uma Maia e, acrescenta Gracinda que também participava na roda de conversa, “hoje as pessoas têm em casa uma Maia mais como artesanato ou lembrança. Eu, como acho graça, tenho uma e coloco-a à janela. Na Associação do Património também lá está uma Maia e colocam-na à janela. Mais para preservar o património.”
A vida em Penha Garcia mudou muito desde o tempo em que Josefina Pissara ia ao castelo com uma Maia. Na altura a boneca era feita com roupas de bebes e para proteger as searas. Hoje, praticamente não há bebes nem searas.
Adelaide Marques recorda-se que “antigamente toda a gente sachava e ia para o campo. Dormia-se lá. Lavrava-se com as vacas, não havia tratores. Sachava-se à mão e os homens malhavam as sementes na eira.”
Como também são muito poucos os nascimentos, Adelaide Marques, que faz as Maias, tem de recorrer a outros tecidos e não às roupas dos bebes. “Custa muito a fazer. Primeira faz-se uma cruz de madeira, enrolam-se trapos e depois faz-se a rodinha. As baietas… o jaqué… Exige muito tempo porque leva muitas roupas. Demora mais de um dia.”
A Maia, tal como a Marafona de Monsanto, estão associadas à fecundidade e à fertilidade e ambas não têm rosto e são construídas a partir de uma cruz de madeira. No entanto, a Maia é vestida como um bebé e a Marafona é de mulher adulta.
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Uma Maia à janela para afastar trovoadas faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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