Recentemente foram dados os primeiros passos para se renovar a atividade mineira no Cabeço da Mua, no concelho de Torre de Moncorvo. Do passado fica um importante acervo que está registado e ilustrado no Museu do Ferro & da Região de Moncorvo.
Não é apenas um museu. É o relato da industria mineira em Torre de Moncorvo. Abrange uma vasta área, a serra do Reboredo, onde se calcula existirem cerca de 670 milhões de toneladas de minérios de ferro.
O Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, ilustra também uma longa janela no tempo, em particular a ascensão da extração mineira, depois da II Guerra Mundial, até ao encerramento em 1998.
É na transição deste processo, entre o declínio e a tentativa de renovação que surge o Museu, conforme conta o seu diretor, o historiador Nelson Campos.
“O Museu do Ferro nasce no contexto do bairro mineiro, em 1983. Num momento em que se discutia se as minas deviam fechar ou continuar em laboração.
Estava em elaboração o projeto mineiro de Moncorvo e que iria transformar por completo não só a paisagem como também os processos de extração. O que se previa para os anos 80 era uma extração em grande escala, com máquinas e um processo extrativo moderno, que iria atirar para o lixo toda a panóplia de instrumentos que até aí tinham sido utilizados.”
É este material que, ao contrário do que foi prática corrente, foi selecionado e nem todo foi para a sucata. “Houve esse cuidado. Preservar como objetos simples, com um fim museológico que até servisse para argumentar a utilidade e a viabilidade do próprio projeto mineiro. Era uma forma, na altura, de dizer sobretudo aos decisores: ‘vejam que toda a vida se trabalhou aqui e se explorou ferro. Desde o tempo dos romanos.
O objetivo do museu era isso: puxar dos pergaminhos para justificar o avanço do chamado Projeto Mineiro de Moncorvo. Que infelizmente não teve sequência. Os decisores de então estavam à espera do 1º Quadra Comunitário de Apoio, em 1985. Acabou por chumbar”.
As minas chegaram a ter 2 mil trabalhadores mas, com o abandono do bairro mineiro e vandalismo e tentativa de roubo, o objetivo seguinte passou a ser a salvaguarda do próprio museu e do seu acervo.”
Havia a ideia de se criar um museu em Torre de Moncorvo e, nos princípios da década de 90, “assim foi. Foi trazido para este solar, com o intuito de o salvar sem prejuízo de um dia se poder criar um parque mineiro na zona do bairro mineiro, um programa de visitação às minas e recuperá-las para fins mais turísticos”.
O Museu do Ferro & da Região de Moncorvo ficou instalado no solar de Barão de Palme, mesmo ao lado da colossal igreja de Torre de Moncorvo.
Estão em exposição vários equipamentos, instrumentos utilizados pelos mineiros, ilustrações e um filme da década de 50 que mostra como se extraia o minério, um trabalho quase todo manual e esforçado.
O Museu tem ainda objetos sobre a transformação e utilização do ferro e remonta até épocas muito anteriores como por exemplo a ocupação romana. Destaca-se ainda material etnológico e uma estela de granito com cerca de 4 mil anos.
Há também uma coleção geológica e uma abordagem da falha tectónica da Vilariça.
Sempre que possível o museu promove visitas à antiga zona mineira e a outros pontos arqueológicos da região.
“O museu está aqui, tem mais visibilidade, mesmo ao lado da igreja matriz e também com melhores acessibilidades para alunos das escolas. Foi tomada a opção de ficar aqui, mas sempre fazendo articulação com a zona mineira.”
O bairro mineiro, na Zona do Carvalhal, fica a cerca de 15km de Torre de Moncorvo e as visitas podem ser alteradas tendo em conta o reinício da atividade das minas.
Museu do Ferro & da Região de Moncorvo faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.