A fachada com linhas muito sóbrias esconde a riqueza decorativa do antigo convento franciscano de Santo António. Na igreja do convento ficamos deslumbrados com o trabalho em talha dourada e o teto revestido com pinturas.
A igreja não é muito grande, mas a riqueza e a diversidade das peças em talha dourada, em particular o retábulo que preenche a parede da capela-mor, enchem de brilho o nosso olhar. Depois o teto, oval, completamente preenchido com pinturas em caixotões.
O Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Penamacor, a entidade proprietária do que resta do convento, faz uma descrição entusiasmada: “é magnifica. Penso que é o adjetivo adequado. Não tenho dúvida nenhuma que quem cá entrar vai dizer o mesmo.”
João Cunha acrescenta os motivos: “é obviamente pela talha dourada. É riquíssima. Tem um altar mor inacreditavelmente belo, nomeadamente o esplendor assim como as colunas e toda a decoração. Depois tem uma nave central que não é habitual.
Está toda coberta com pinturas em caixotões com as molduras que são também em talha. O que também não é normal. A maior parte das molduras que se costumam ver nas igrejas são em madeira mais ou menos lisa. Estas não, têm a talha e é bem trabalhada.”
Quem visitar a igreja deve ir ao coro alto para ter uma visão de conjunto. Como estamos próximos do teto, podemos ver em detalhe as pinturas nos caixotões.
A maior parte são de aves e carrancas. Nos caixotões que decoram o teto da capela-mor as representações são vegetalistas, tal como a decoração barroca do retábulo.
Um arco ladeado de dois altares, também decorados com talha dourada, separa a nave da igreja da capela-mor.
Numa das paredes destaca-se o púlpito também em talha dourada.
Muitos destes elementos têm um brilho ainda mais intenso devido ao restauro realizado há cerca de 15 anos. “O IPPAR com protocolo com a Câmara Municipal e a Santa Casa da Misericórdia. Conseguiu-se recuperar o monumento. Foram gastos cerca de 650 mil euros, mas penso que valeu bem a pena porque é nosso entendimento que o património nos representa, nos dá a identidade não só como pessoas, mas também como região e como país.”
Mesmo com o restauro são menos percetíveis as pinturas no cadeiral que se encontra no coro alto. O nome técnico é “chinoiserie”. São pinturas com motivos e traço oriental. Talvez evocativas do papel evangelizador dos franciscanos no Oriente.
Parte significativa do convento foi adulterado, no entanto, “supõe-se que muitas das imagens que aqui estão serão as originais.
Também se supõe que todo o trabalho de talha também seja original, mas fruto de algumas demolições de algumas igrejas, é provável que algumas imagens ou pedaços de talha dourada em altares possam ter vindo de outras igrejas.
Quem visitar pode constatar que a talha dourada é representativa de várias épocas.”
O patrono, Santo António, está profusamente representado na sacristia. São 12 pinturas em madeira, sobre o arcaz, alusivas a episódios da vida do santo.
Na passagem interior para a igreja, ou para o coro alto, percorremos a estrutura interior do convento que já foi hospital, centro de saúde e é agora Centro de Dia. Há ainda um estúdio da rádio Voz da Raia.
“A parte interior foi remodelada, embora os claustros se mantenham, pensamos nós, no formato original.
O claustro, quadrangular, tem dois pisos com arcos assentes em colunas de granito.
No centro está um tanque decorado com um leão em pedra e vários vasos de flores que quebram o tom frio e cinzento.
Faz agora 450 anos que o convento foi construído com doações da aristocracia local e o trabalho voluntário do povo.
Foi convento até à extinção das ordens religiosas em 1834.
A área envolvente seria muito maior. Agora oferece um excelente miradouro com vista para um planalto em direção à fronteira, onde se destaca Monsanto.
O conjunto, a igreja e o claustro do convento, foi classificado como Monumento de Interesse Público em Março de 2020.
O segredo do convento de Santo António em Penamacor faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.