Zulmira costuma andar com um rebanho de cabras no alto da serra da Lousã, nos passadiços da Ribeira das Quelhas, no concelho de Castanheira de Pera. Numa paisagem deslumbrante, mas por vezes é ela a fotografada. Dizem que não publicam nas redes sociais mas ela descobre quem falta à promessa.
Prometi à senhora Zulmira, por esta altura, ir ao Coentral comprar-lhe um queijo de cabra.
A promessa foi feita quando a encontrei com um rebanho de cabras nos deslumbrantes passadiços da Ribeira das Quelhas, na serra da Lousã.
Espero um dia destes cumprir a promessa, ao contrário de “muita gente que vem aos passadiços e tiram fotografias. Eu digo para não me tirarem porque colocam depois no Facebook. Dizem que não, mas acabam sempre por publicar.”
Ela acaba por confirmar no telemóvel.
Na altura em que falei com a senhora Zulmira o seu rebanho tinha 35 cabras.
Estava a descer a encosta da serra da Lousã, próximo de Santo António das Neves, onde antes se fazia gelo com a neve guardada em poços e que depois era transportado para Lisboa.
Uma atividade dos chamados neveiros. A maior parte viviam no Coentral, para onde se dirigia Zulmira e orientava o rebanho.
Ela aproveita os passadiços, uma estrutura de madeira de 1.200 metros que galga a encosta da serra, enquanto as cabras pastavam no meio do terreno rochoso, ingreme, com vegetação rasteira e algumas cascatas.
É para aqui que Zulmira vem com o rebanho quase todo o ano. “A chover, vento e até com neve. Quando neva o que me vale são os passadiços, embora também escorregam. Fica tudo branco. Antes era frequente a queda de neve. Nos últimos anos não.”
É preciso uma boa condição física para subir os passadiços quase todos os dias, em particular nesta altura. À pergunta se vale a pena o esforço, Zulmira responde com um encolher de ombros. Um sinal que revela também falta de alternativa. “Temos de andar com elas. Há um subsídio que vem uma vez por ano, por vezes vende-se um queijo, alguma cabra e o cabrito para os dias de festa.”
O rebanho pertence todo à senhora Zulmira.
Antes o Coentral tinha rebanhos comunitários.
Acabaram os rebanhos, os neveiros e as fábricas. “Havia duas fábricas de meias de lã. A de António Lopes Ladeira foi onde estive durante 28 anos. A outra, a de Manuel Alves Barata, também fechou.”
Apesar de todas as contrariedades a senhora Zulmira respondeu sempre com um sorriso. Por vezes faz uma pausa num dos vários miradouros do passadiço a contemplar a paisagem e a observar os visitantes.
Diverte-se com a quantidade de fotografias que tiram ao seu rebanho. Das que lhe tiram a ela, suspeito que também se diverte quando as vê no Facebook.
A pastora Zulmira nos passadiços da Ribeira das Quelhas sabe quem cumpre a promessa faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.