Esta é a altura do ano adequada para se comer lampreia. Os apreciadores assumem que é um ritual “obrigatório”, muitas vezes partilhado em grupo. Este ano escasseia a lampreia e a pesca, por exemplo no rio Tejo, não tem tido grande sucesso.
Próximo do castelo de Almourol, até ao mês de Abril, cerca de meia dúzia de pescadores andam dia e noite a tentar pescar a lampreia no rio Tejo.
“Há cinco a seis barcos. Estamos organizados assim: o que chega primeiro vai lançar. Quando termina acende uma luz. O que está em segundo vai lançar e quando chega lá abaixo acende a luz… e assim consecutivamente. Vamos rodando.”
A descrição é do pescador Manuel Garcia. Andava com a mulher no barco após uma noite malsucedida na apanha da lampreia. “Quando cheguei estavam dois pescadores. Um foi logo embora, outro andou algum tempo a tentar. Eu fui mais persistente e andei até às duas da manhã, para nada. Não pesquei nada. Andei a coar água, como dizemos aqui.”
Na viagem de barco que fizemos, entre Tancos e Arripiado, recebeu um telefonema. Perguntavam se tinha lampreia, mas “este ano é para esquecer. Nem dá para pagar o trabalho. Começamos por volta das seis da tarde e terminamos às duas da manhã. Por vezes não apanhamos uma única lampreia. Apanhar uma já é muito bom. Nos últimos anos tem havido esta dificuldade e agora não é da qualidade da água porque está limpa. 40 a 45 euros é o preço que se vende.”
A água do Tejo estava limpa, mas era baixo o leito do rio. Via-se com facilidade o fundo, como também algumas plantas que tentavam arrancar porque prejudicam a pesca com redes.
Por isso, como diziam, andavam a “limpar o rio”.
Na pequena embarcação de madeira a tarefa não era fácil e exigia esforço.
A corrente era pouca e o puxar das plantas ditava o movimento do barco quando tinha o motor desligado.
Manuel Garcia tem uma larga experiência no manuseio do barco. “Comecei aos 8 anos de idade com o meu pai. No rio Nabão. Depois passámos para o Tejo onde já vinha de vez em quando para apanhar a fataça ou tainha.”
Pescam ainda sável, mas o que vem mais à rede é a fataça e que lhe permite pescar quase todos os meses. “Como tenho encomendas de fataça venho praticamente todo o ano.
Duas a três vezes por semana. Agora, de Janeiro a Abril, é a campanha da lampreia. Andamos aqui quase todos os dias.”
Ao final do dia vemos barcos ancorado no cais de Tancos e Arripiado. Alguns pescadores preparam as redes.
No entanto, o que capta mais a atenção é a beleza do lugar. O pôr do sol com o casario de Arripiado e Tancos a refletirem-se na água.
A época da lampreia faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.