A voz de Luís Correia Carmelo é suave, melódica, com pronuncia do Brasil. A presença junto da audiência é segura, calma e um ligeiro sorriso que se espelha no olhar acentua o prazer de contar histórias. O encanto é maior quando a comunicação com o público é também feita com uma concertina.
Luís Correia Carmelo é investigador, doutorado em Artes, Cultura e Comunicação, nasceu em Portugal, mas parte da infância e da juventude foi passada no Brasil. A sua entrada no universo da narrativa oral foi pela porta do teatro.
“Formei-me como ator, fiz um projeto teatral e lentamente fui percebendo que gostava mais de estratégias narrativas de representação de uma história do que a representação dramática. Gostava mais de pôr as pessoas a imaginar as histórias, a visualizar mentalmente as histórias, do que a fazê-las à sua frente.”
Talvez seja esta a razão porque nas vezes que o vi contar histórias a sua postura não é muito teatral, cénica. Vive mais do momento, da relação com o outro.
“O aspeto relacional para mim é essencial. É algo comum a qualquer contador de histórias. Eu podia contar histórias através de filmes, música ou a escrever, mas eu gosto assim, oralmente. Ser senhor de toda a minha dramaturgia, da minha técnica. No outro lado da moeda, eu gosto de me relacionar com as pessoas.”
A escolha das histórias que vai contar, o encadeado e o ritmo são outros fatores que ajudam a estabelecer a relação com o público. No entanto, ao contrário da minha expectativa, diz que a pronúncia da sua vivência no Brasil “é algo que me identifica, que dá uma estranheza, que conota e que tive de me habituar a viver com.
Eu acho que no mundo em que estamos hoje, infelizmente, as questões da diversidade são urgentes. As sociedades precisam de resolver rapidamente. Ser diverso nunca é uma vantagem, apesar do que possam dizer romanticamente.”
Outra marca de Luís Correia Carmelo é a utilização de uma concertina onde procura formar uma tríade que funciona como um todo: o seu corpo, a voz e a música.
“A concertina surgiu pelo meu interesse sobre o instrumento. Procurava um que pudesse tocar e falar ao mesmo tempo. Também por outras questões como a sonoridade. É um instrumento que também respira, tem um fôlego, permite-me ter uma mão livre e posso falar facilmente. Eu uso a concertina num repertório muito específico que são as Contatinas.
São histórias, quase todas originais, que eu escrevi, para composições que fiz com a concertina. A música e as histórias nasceram em simultâneo. A música não é um segundo nível narrativo, uma banda sonora. Faz parte. Eu não consigo contar essas histórias sem a concertina e também é difícil tocar as músicas sem as histórias.”
Luís Correia Carmelo percorre todo o país a contar histórias e é mais frequente encontrá-lo em bibliotecas, escolas, teatros ou outros espaços de coletividades.
Luís Correia Carmelo – uma concertina de histórias para contar faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.