Faz esta semana 25 anos que o navio Gil Eannes regressou a Viana do Castelo para ser transformado num magnífico museu que ilustra a sua função de navio hospital junto da frota bacalhoeira. A data é assinalada com a inauguração de uma exposição e a apresentação do “Álbum de Navios da Pesca do Bacalhau”.
O Gil Eannes é um exemplo notável de recuperação de um navio que esteve na sucata para ser desmantelado, após anos de abandono.
É também um universo surpreendente de objetos e ambientes que nos remetem para a sua função: navio hospital.
Mas, vai muito para além disso. Sentimos a vida no mar, as adversidades da pesca do bacalhau e, talvez, o conforto do tratamento médico no Gil Eannes, devidamente equipado.
No interior podemos ver a enfermaria, a sala de operações e a enorme casa das máquinas, com tubos com vários metros de altura.
“É o espaço mais importante do navio. Os visitantes chegam aqui à casa da máquina e dizem Ah!. Eu costumo estar na casa da máquina e vejo que é muito frequente.”
O testemunho é de Nicolau Alves, responsável pelo restauro e manutenção do navio.
O Gil Eannes esteve abandonado durante vários anos numa doca de Lisboa. Foi retirado do estaleiro de sucata e regressou a Viana do Castelo onde foi construído na década de 50.
Muito do trabalho de restauro tem sido progressivo, sempre com o cuidado e o saber de Nicolau Alves. “Eu tive o cuidado de trazer o metal à cor. Os metais estavam todos pintados. Selecionei o código de cores a nível de acabamentos. Nós sabemos pela cor se é um tubo de água doce, salgada, de ar…”
Outra preocupação é os materiais serem originais. “A casa da máquina está rigorosamente completa como se o navio andasse. As máquinas não funcionam, mas está tudo original. Enquanto aqui estiver primo por manter o original. Até o parafuso tem de ser original.”
Nicolau Alves teve a mesma preocupação com as salas reservadas para cuidados médicos. Pequenos compartimentos, pormenorizados com mobiliário, roupa, fardas e instrumentos.
O detalhe colhe de surpresa quem desce à sala de operações. “Reabilitámos esse espaço há 4 anos. Foi um trabalho difícil porque estava tudo destruído.
Pintei todas peças do bloco operatório. Tudo o que lá está é original do navio com exceção do laboratório de análises que tinha sido roubado.
Foi difícil o trabalho, mas quando abrimos foi também uma surpresa para muita gente.”
Na visita descobrimos ainda os equipamentos de navegação. Há também um espaço onde podemos ver vídeos sobre a pesca do bacalhau e uma das despedidas do Gil Eannes num cais de Lisboa, para mais uma viagem em alto mar.
Com este enquadramento o Gil Eannes é um navio museu carregado de emoções para muita gente relacionada com o mar.
O Gil Eannes está ancorado na antiga doca comercial de Viana do Castelo, num lugar central e com um magnifico enquadramento.
“Ao subirmos lá acima, à parte central, e olharmos para Santa Luzia, para o rio, a foz do Lima, as pessoas ficam deslumbradas.”
Realizam visitas guiadas e por vezes Nicolau Alves é o guia. É um apaixonado por navios e pelo mar. Trabalhou durante o dia e estudava de noite. Tirou o então Curso Industrial e a sua vida foi nos estaleiros de Viana do Castelo e no mar, onde fez quatro viagens.
“Fui sempre um apaixonado pela história de navios. A história da pesca do bacalhau fascina-me, o mesmo sucede com o material relacionado com navios. Sou colecionador de livros e de objetos. Custa-me ver esse património a desaparecer.”
A entidade gestora do Navio Museu Hospital é a Fundação Gil Eannes. Foi criada com o intuito de preservar o navio. Agora, ao assinalarem os 25 anos de “resgate” do Gil Eannes promovem algumas iniciativas. Uma delas é a inauguração da “Viagem de Fé – Pescadores Portugueses, Homens de Fé, de Olhos Postos na Proteção da Virgem Maria”, no dia 31 de janeiro.
No dia 4 de Fevereiro é apresentado o “Álbum de Navios da Pesca do Bacalhau”, da autoria de João David Batel Marques.
O inédito e surpreendente museu navio hospital Gil Eannes faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.