Na Frecha da Mizarela o rio Caima despenha-se a mais de 60 metros de altura. A primeira queda de água é comprida, a pique, depois, desdobra-se em quedas mais pequenas.
Conforme bate na escarpa o fio de água alarga-se e acentua o contraste com o xisto escuro.
O barulho do embate da água domina toda a área envolvente.
Do miradouro de Mizarela não se consegue ver o final da queda de água. A vegetação densa e a forma como o vale é encaixado esconde o leito o rio.
Carvalhos negros e carrascos agarram-se às encostas e a vegetação rasteira é agreste. Para uma vista mais próxima temos de descer e o caminho não é fácil. Este é um dos motivos porque o vale tem sido indomável.
Afirma a bióloga Susana Bastos que a área de carvalhal que existe na Frecha da Mizarela acabou por ter uma proteção especial exatamente pelo difícil acesso ao local.
“É uma área muito singular que tem uma combinação de espécies sobretudo vegetais que são de enorme valor. Encontramos espécies como o saramago das rochas ou o cardo-corredor-gigante (Eryngium) que somente ocorrem neste vale encaixado. Exatamente pelo encaixe que o vale apresenta, garante a sua proteção e a preservação até à atualidade. São espécies únicas no território do Arouca Geopark e a distribuição a nível nacional e europeu é também muito limitada”
Um outro sinal do isolamento é a existência de espécies da floresta anterior às últimas glaciações, há 20 milhões de anos. “Em todo o território do Geopark é apenas na base da Frecha da Mizarela que encontramos o Loendro, característico da Laurissilva.”
Estamos a mais de 900 metros de altitude, na serra da Freita, e o vale, praticamente é também o refúgio de algumas aves que podemos ter a sorte de ver em algumas épocas do ano, como sublinha Susana Bastos: “podemos observar, em especial na Primavera e no Verão, aves como a águia cobreira ou o melro das rochas que são espécies que visitam a serra da Freita apenas neste período. São espécies migratórias e que acabam por encontrar aqui o alimento necessário nesta época do ano.”
Têm muita liberdade para voar porque são poucos os sinais da presença humana.
Mizarela tem meia dúzia de casas e do outro lado do vale, quase no topo da serra, está Castanheira e um pouco mais acima, o fantástico miradouro do IPMA.
A pequena aldeia das Pedras Parideiras tem em volta vários socalcos que são usados para a agricultura.
Do lado de Castanheira também temos uma perspetiva interessante da Frecha da Mizarela. A vista revela como se forma o vale. Uma zona plana, de granito, que consoante muda para o xisto, para escarpas, cria uma enorme falésia que a erosão provocada pelo rio ajuda a acentuar.
Na explicação de Alexandra Paz, geóloga, “na Frecha da Mizarela o rio Caima, que se forma na zona do planalto, ao atravessar da zona granítica para o xisto, revela como é diferente a resistência das rochas.
A erosão foi maior no xisto. Vamos encontrá-lo na base da queda de água, enquanto que o granito observamos nas imediações da aldeia da Mizarela.
Na zona do Contacto Litológico confirmamos essas rochas lado a lado. “O miradouro da Frecha da Mizarela e o Contacto Litológico percebermos a diferença entre as rochas e o impacto na paisagem dos seus diferentes comportamentos.”
Curiosamente, depois da queda de água, o rio Caima segue por um percurso estreito porque o vale encaixado não lhe dá liberdade para se alargar.
Há vários caminhos que nos levam ao fundo do vale mas convém ter indicações precisas sobre o percurso..
Frecha da Mizarela – a maior queda de água em Portugal Continental faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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