Até Domingo a Feira das Freguesias de Arganil é uma das poucas oportunidades para provar o bucho de Folques. É muito afamado, mas só meia dúzia de pessoas conhecem a receita e corre o risco de ficar no esquecimento.
Margarida Gomes é uma das pessoas que conhece a receita e que com alguma regularidade faz o bucho de Folques. Ela acrescenta é pouca gente que conhece a receita “porque passa de umas mulheres para as outras. Eu, por exemplo, aprendi como se faz, os ingredientes, a quantidade certa, com a minha avó e a mãe dessa minha avó, que ainda conheci. Continuamos a fazer esta passagem e eu creio que a minha filha também já saber fazer.”
Margarida Gomes passou o testemunho à filha, Marta, repetindo um processo de transmissão geracional e familiar de um produto exclusivo de Folques, uma aldeia do concelho de Arganil.
Na região há um outro bucho tradicional, com origem em Vila Cova de Alva, mas é muito diferente. “Enquanto o bucho de Vila Cova de Alva, Benfeita, Luadas… aproveitam o sangue do animal, carnes nobres como lombo de porco, e leva também arroz. O bucho de Folques é diferente. Tem carne, temperos, pão fatiado, que se coloca por cima da carne temperada, e ovos. Leva ainda muita salsa. Tem de se fazer com a medida certa porque se ficar com muito recheio o bucho estraga-se quando vai à água.”
Como era de esperar, Margarida Gomes prefere o bucho de Folques. O sabor não é tão intenso e o aspecto também é mais suave devido ao ovo e ao pão. “Um tom amarelo porque o pão não se nota. Ao mexermos a carne com o pão e os ovos e com alguma humidade da carne, aquilo fico tudo incorporado.”
É incerta a origem do bucho de Folques. Há quem associe ao Mosteiro que remonta ao século XI. Por outro lado, Margarida Gomes só conhece mais um bucho que leva ovos. “Uma vez mandei vir o bucho da Sertã. Achei parecido, também tem ovos, mas leva imensas carnes, enquanto o nosso só leva carne de porco. O sabor é diferente.”
Apesar de se diferenciar dos outros e de ter uma longa tradição, Margarida Gomes não antecipa um grande futuro para o bucho de Folques: “vai acabar. Tentámos fazer uma pequena fabriqueta mas o projeto não foi aprovado.”
Em épocas festivas e por encomenda uma IPSS local, a Assistência Folquense, onde trabalha a filha, Marta Gomes, é onde se produz o bucho. A Assistência Folquense faz em épocas festivas. Natal, Páscoa… Se encomendarem também fazemos. Há ainda uma a duas pessoas que fazem. O mais fácil é pedir à instituição.”
O outro bucho tradicional, o originário de Vila Cova do Alva, também correu o risco de acabar, mas Miguel Ventura, vice presidente da Confraria Gastronómica do Bucho de Arganil. diz que se conseguiu tirar do esquecimento. “Com a ação da Confraria, desde 2006, houve um revitalizar da produção do bucho, embora atualmente não exista nenhuma unidade de produção em Vila Cova do Alva.
Mas surgiram outras unidades no concelho que reinventaram e tiveram a criatividade de fazer do mesmo produto algo diferente. Hoje temos o bucho de Benfeita, que é mais pequeno. Há também o bucho de Vilarinho do Alva e Mucelão, na freguesia de S. Martinho da Cortiça. Há também talhos que produzem o bucho inspirado no de Vila Cova de Alva.”
Em alguns talhos é possível encontrar este bucho. O de Folques só por estes dias, até domingo, conseguimos provar, na Feira das Freguesias de Arganil, uma mostra de produtos gastronómicos locais onde a Assistência Folquense leva em quantidade suficiente para responder aos pedidos dos curioso ou dos que querem matar saudades.
O singular bucho de Folques faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.