Vitor Costa é o único bonecreiro de teatro popular de marionetas, Dom Roberto, que dá continuidade à tradição familiar. Um legado que se aproxima de um século.

A aprendizagem no seio da família, com a transmissão de conhecimento de geração para geração “vem do avô dos meus irmãos que passou para o meu pai e do meu pai para mim.
Eu já levo 50 anos com os D. Roberto e, contando com as gerações anteriores, já deve ir entre os 90 a 100 anos.”

Vitor Costa  dá seguimento aos Robertos Santa Bárbara no nome e no rigor com que replica o teatro feito pelo pai, João Santa Bárbara, com quem aprendeu a arte quando era miúdo e fazia companhia nas feiras e praias.
“Eu andava a receber o dinheiro das pessoas. Por vezes parava e ficava a ver o meu pai. Depois tentava repetir, sozinho, em casa. Na janela ou noutro lugar, com os bonecos do meu pai.”

Mesmo os bonecos Dom Roberto, de madeira, com cores vivas e cabeças aprumadas, seguem a matriz dos bonecos do pai. Por outro lado, tem de os renovar porque os bonecos agitam-se muito no topo da guarita e é vulgar pancaria entre eles.

“O meu irmão mais velho produziu os meus primeiros bonecos há 20 anos. Antes, eu fiz bonecos inspirados nos que tinha o meu pai. As mesmas formas, a mesma expressão. É ainda os que faço hoje em dia.”

Também nas histórias Vitor Costa segue a via tradicional que, com algumas variantes, faziam parte do repertório dos bonecreiros que nesta altura percorriam o país.

“Eu faço as histórias que aprendi com o meu pai: o Barbeiro e a Tourada. Gravei o que o meu pai fazia e repito as histórias. Os meus espetáculos não duram mais de 8 a 10 minutos.”

Apesar desta preocupação em respeitar o legado dos Dom Roberto, dizem-me que Vitor Costa está sempre a inovar, a experimentar.
Por exemplo, no final dos Robertos, em frente da guarita, Vitor Costa manipula outro tipo de marioneta a que também dá voz e tenta um relacionamento “cara a cara” com o público. Para o Dia das Bruxas criou uma história, quando o Dom Roberto vai ao cemitério. Em dois espetáculos a que assisti aproveita pequenos incidentes, improvisos e a atenção do público, para estabelecer uma relação mais próxima.
Ou para os surpreender, no meio da Tourada, sai de repente da guarita com o touro e vai em direção aos espetadores mais novos, provocando grande alvoroço.

O efeito é maior devido à voz estridente da palheta, um instrumento fundamental que não é fácil de aprender. “Eu comecei a fazer espetáculos por volta de 1980. Foi difícil. Temos de  colocar a palheta no céu da boca e fazer os primeiros acordes. Leva algum tempo, depois aprende-se. Eu já engoli uma.”

Outra aprendizagem é, dentro da guarita, sentir a reação do público. “Pelo riso. Alguns marionetistas têm buracos para ver. Eu estou lá dentro e é pelo riso que sinto as pessoas no exterior.”

Por vezes uma ou outra criança não resiste à curiosidade e vai espreitar atrás da guarita, para ver como se faz a magia dos bonecos.
“Antes usava a guarita toda fechada. Agora deixo a parte de trás aberta porque eu quero mostrar às pessoas o que o artista faz.

Se as pessoas estiverem à frente assistem à magia dos bonecos, mas quem quiser pode ver como o artista faz e observa a manipulação dos bonecos.
Por vezes há espetadores que vão ver atrás da guarita. Até porque há quem pense que são duas pessoas que manipulam os bonecos devido ao movimento, à rapidez, surgir um boneco novo… É tudo um jogo de mãos.”

Vitor Costa andou durante muitos anos a fazer Dom Robertos nas praias da Costa da Caparica. Agora partilha as atuações em eventos para onde é convidado, mas por vezes ainda lhe apetece pegar na mala com os bonecos e ir para a rua.

“Costumo fazer na Moita, outras vezes na Costa da Caparica e também na Rua Augusta em Lisboa. A sensação é diferente de um festival porque vamos à procura do público, temos de o chamar. Num festival o público já lá está e sabe o que vai encontrar.”

Vitor Costa diz que prefere o improviso da rua, cativar a atenção de um público diverso.
Faz estas incursões essencialmente ao fim de semana porque durante a semana tem de trabalhar numa loja.
A aprendizagem, de não ficar dependente do dia a dia dos Dom Roberto, também a pretende transmitir ao filho mais velho que poderá receber  testemunho dos Robertos Santa Bárbara.

A confirmar-se a passagem de testemunho vamos ultrapassar um século de uma tradição familiar a encantar e a contagiar o público com a vivacidade dos Dom Roberto.

A diversão da magia de Vitor Costa e dos Robertos Santa Bárbara vai fazer um século faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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