Um roteiro de nostalgia. Uma visita a uma aldeia sem residentes permanentes. Fontão tem cerca de 25 casas, quase todas em xisto, está isolada num vale profundo a 5 km da estrada principal e a 8 km de Loriga, no concelho de Seia.
Nostalgia também para quem aqui viveu e só em poucos dias durante o ano retoma o ambiente dos tempos de criança. Quase todas as casas estão arranjadas e não se estranha que tenha sido uma das candidatas a 7 Aldeias Maravilha de Portugal. Muitas das habitações só são ocupadas no segundo domingo de Agosto, para a festa da Nossa Senhora da Ajuda.
Nessa altura o Fontão reúne muitos emigrantes, gente que reside em Lisboa e “faz-se uma festa muito bonita” diz Alberto Marques vive na Loriga e é mais um dos dias que tem presença marcada no Fontão.
O único residente permanente é o Nico. Um cão que dá as boas vindas a todos os visitantes e que abre caminho nas ruas estreitas que vão desaguar ao ribeiro que atravessa o centro da aldeia.
Domina o som da água, a cor do xisto, o brilho da lousa nos telhados e o verde dos sucalcos nas encostas. Um pouco mais longe deparamos com a natureza morta. Do fogo, das cinzas, dos pinheiros queimados que ainda lá estavam e que cercam toda a zona envolvente.
Foram estes pinheiros que durante algumas décadas foram o sustento de muitas famílias de Fontão. Uma delas era a de Alberto Marques e Maria dos Anjos. A resina era uma fonte de receita importante. Alberto tinha cerca de “20 mil bicas”, 20 mil pinheiros que explorava aqui e no Alvoco. “O lume estragou tudo”.
Alberto Marques e Maria dos Anjos também têm uma relação de nostalgia com Fontão. Encontrei-os dentro de um carro, no alto da aldeia, a contemplarem o casario. A terra onde Alberto nasceu há mais de 60 anos, num ano em que foram registados nove nascimentos.
Quando era criança Fontão tinha cerca de uma centena de habitantes e o povoado era maior, seguia o ribeiro onde havia vários moinhos.
As sementes dos cereais vinham de plantações nos sucalcos que ainda hoje decoram as encostas próximo da aldeia. Foram construídos em pedra. São terrenos agrícolas. Plantavam batata, milho e centeio. A agricultura permitia serem auto-sustentáveis. No entanto, todos os domingos havia uma saída a Loriga. À missa.
Fontão tem uma capela. Está próximo da escola, no alto das encostas da serra e junto à estrada que dá acesso à aldeia. A escola foi feita com o dinheiro oferecido pela população. Alberto Marques tem o registo de cada contributo e de quanto custou.
A construção da escola terminou em 1928 e foi inaugurada em 1931. É o que está registado numa placa afixada numa das paredes da escola. A capela foi inaugurada em 1941.
Apesar de não ter residentes permanentes a capela continua a dar horas. A escola fechou há cerca de 40 anos. Um dos promotores da construção da escola e da capela foi o avô de Alberto Marques e esse é um dos motivos porque quase todos os dias deixa Loriga, onde reside, a caminho do Fontão.
Anda numa cadeira de rodas e por vezes passeia na estrada em redor da aldeia. “Até vou daqui com saúde”. Porque as ruas e as casas têm escadas foi forçado a deixar o Fontão.
Na despedida o Nico ainda corre atrás do nosso carro. Alberto e Maria acenaram e continuaram dentro do carro a contemplar, a escola, a capela, as casas e o tempo que passa pelo Fontão.
Fontão de beleza natural faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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