No Museu da Lourinhã estão em exposição várias peças do Café Nicola que fica um quarteirão ao lado. Num canto da sala podemos ver conjuntos de chávenas, açucareiro, um relógio de parede, a fotografia de Francisco Alves, o fundador do Nicola, e um rádio.
O aparelho é muito antigo e permitia aos clientes do café ouvir noticias e a evolução da Segunda Guerra Mundial, contada pela BBC e Fernando Pessa.
O hábito de ir ao café para ouvir rádio continuou por muitos anos e com novos temas: “as pessoas vinham ouvir os relatos de futebol”.
Inocêncio Costa é o actual proprietário do Café Nicola e não tem a certeza da data da fundação do café. “Com base em testemunhos de pessoas mais antigas, da filha do fundador desta casa e de informação que recolhi, como estabelecimento comercial, taberna e depois café, deve ter entre 140 a 150 anos, que é a data do prédio.”
Um terço da idade do café foi com a presença de Inocêncio Costa. “Estou aqui há 52 anos. Comecei aos 12 anos como empregado. Aos 21 fiquei com metade da quota e em 2003 comprei a outra metade.”
Durante muitos anos o trabalho era de manhã até madrugada.
“Na altura em que vim para aqui era só café. Era muito conhecido pelas bifanas. Numa manhã era capaz de vender 50 bolos. À tarde eram as bifanas e pipis. À noite era a única casa na Lourinhã que fechava às 2h da manhã ou ainda mais tarde. Naquela altura quase toda a juventude da Lourinhã e arredores frequentava o Nicola.”
Hoje o ambiente é diferente. Continua a ser um pequeno salão, tem uma esplanada coberta que esconde a fachada e passou a ser também restaurante.
No historial das tristezas do café e de Inocêncio Costa está um incêndio que lhe destruiu a reconstituição do espaço com a decoração tal como estava na fase inicial.
Ficaram apenas algumas memórias e poucos elementos originais. “Restam a fachada e as portas porque tive o azar do incêndio e depois já não pude gastar muito mais. Mesmo assim, no interior, tentei imitar o antigo.”
A imitação tenta preservar a decoração e tons clássicos, recriar o ambiente de café onde lenta e calmamente se podia ler o jornal.
“Fui cliente todos os dias do Diário de Notícias e de um jornal desportivo. Na altura em que o café fechava à noite ainda comprava A Capital. Agora tenho o Correio da Manhã que é o que os clientes pedem. Tenho um cliente que vem todos os dias de manhã e é ele que passa pelo quiosque dos jornais às 8h e que o traz para o café.”
O mundo mudou, no entanto, a conversa de café continua a ser a guerra e a tertúlia é aberta, alarga-se até à esplanada e a aquém passa. “Era a rua principal da Lourinhã.
Chamava-se a rua grande da Lourinhã. Muitos estabelecimentos já fecharam. O Nicola mantém-se e eu gostava muito que não fosse modificado noutro género de casa comercial. Que continue como café. Assim espero enquanto eu cá estiver.”
Café Nicola da Lourinhã, das bifanas e pipis faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.