Na sua viagem literária pelas Estações da Vida, Agustina Bessa-Luís descreve os azulejos em algumas paragens de comboio que funcionam como postais ilustrados dessa região.
Na estação de Santarém encontram-se “dos melhores azulejos (…) muito vivo, muito honrados de realismo, com as feiras de gado e a corrida dos campinos a reunir as reses.”
Os azulejos de tonalidades azul e branca são de 1927, estão quase a fazer um século, e os painéis estão colocados na parede do edifício principal.
Dos 18 painéis, Agustina destaca um onde “está um maioral, brilha o peitilho das camisas e as meias brancas. Uma poeira baça sobe do chão e apaga os cascos dos cavalos”.
Outros azulejos retratam trabalhos agrícolas e monumentos de Santarém, Golegã e Ourém.
Os azulejos foram produzidos na Fábrica Aleluia, a partir de desenhos de João Oliveira e foi uma oferta à CP da então Comissão de Iniciativa e Turismo de Santarém.
A casa tradicional portuguesa
O projeto coincide com a construção do novo edifício da estação , que substituiu o original, de 1861. A arquitetura corresponde ao estilo tradicional da casa portuguesa. “É um edifício de grandes dimensões, com vários pisos. O projeto é do arquiteto Perfeito de Magalhães. O edifício original é de 1861.
Este é já de outra geração e data de 1927. É uma estação no sopé de uma colina, na margem do rio Tejo”. A descrição é de Paula Azevedo, arquitecta da Unidade de Património Histórico e Cultural da IP Património, que nos ajuda a perceber a história da gare e que foi uma das mais importantes da Linha do Norte.
A estação foi inaugurada em 1861 quando chegou a primeira locomotiva a vapor a Santarém e que teve direito a festa.
Ainda encontramos vestígios dessa fase. “Podemos observar alguns elementos do inicio da construção da linha, nomeadamente da época da tração a vapor, como seja o depósito de água que ainda mantém as características.
A antiga cocheira de carruagens onde já esteve instalada uma secção museológica e onde também esteve a carruagem real. Actualmente esta encerrada.”
A cocheira de forma retangular ainda tem as letras coladas na parte da frente do edifício, em cima de duas portas grandes que estão ladeadas do cano metálico que abastecia de água as máquinas a vapor.
Num anexo ao edifício da estação também estão coladas numa parede uma classificação que voltou ao debate recente da ferrovia: Grande velocidade.
Santarém fica no alto da colina, o comboio preferiu namorar o rio tejo. São parceiros num percurso onde hoje o automóvel ganha preferência e as duas pontes para a outra margem do Tejo, para Almeirim, são exemplo disso.
A Ponte D. Luís, de ferro e contruída pouco depois da inauguração da estação de Santarém e, a mais recente, a Ponte Salgueiro Maia.
A estação ferroviária de Santarém ganhou em 1971 o segundo prémio da região Centro no concurso das estações bem cuidadas, conforme se lê numa placa e o pequeno jardim ainda quer reviver esse tempo. Mais recentemente, em 2013, a estação ferroviária e a cocheira de carruagens ganharam a classificação de Monumento de Interesse Público.
Agustina Bessa-Luís: a estação de Santarém tem “dos melhores azulejos” faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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