A viagem foi no Andean Explorer da Peru Rail.
Um percurso de 10h fantásticas.
Para quem gosta de fotografia é fabulosa a última carruagem. Panorâmica e com muitas opções para escolher a melhor perspetiva.

Andean Explorer
Andean Explorer

O percurso é feito de dois em dois dias.
Convém comprar antecipadamente o bilhete. Para grupos convém ser com maior antecedência. Esgota com frequência nos dois sentidos: Cusco – Puno e vice-versa.
Deve-se ter ainda em conta a época das chuvas e da manutenção. Pode ter mais informações no site da Peru Rail ou no site oficial de turismo.
Paguei 268 US$ por uma viagem. Valeu a pena.

A partida era às 8h e convinha estar meia hora antes. Tinha de se deixar a bagagem que é transportada numa outra carruagem.
Na verdade, o David, o taxista que me acompanhou em Cusco, atrasou-se e havia imenso trânsito na parte histórica de Cusco. Cheguei mesmo em cima das 8h.
Safei-me, por pouco, e ainda consegui fumar metade de um cigarro.
No comboio, mesmo na carruagem panorâmica, é proibido fumar.

A saída de Cusco é uma experiência interessante.

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Cusco

Percorre-se a zona urbana e, conforme se entra nos subúrbios, estende-se o horizonte.
Do ponto de vista social, aparentemente, não há grandes diferenças.
Ruas e ruas de terra batida, sem arruamentos, pequenos ribeiros correm ao longo da estrada, lixo por todo o lado, até no meio da linha de caminho de ferro.

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Andes

A reação das pessoas à passagem do comboio é sempre com um aceno, um adeus de alegria. A rotina é diária. Num dia num sentido, no dia seguinte em sentido contrário. Mas parece ser uma novidade todos os dias.
O gesto do adeus é também um outro sinal: o da cordialidade.
Surpreende, porque são reservados, sobretudo as mulheres. Mas são pessoas simpáticas, bons anfitriões.

Andes
Andes

O comboio passa depois por pequenos lugares (pode ver aqui o percurso), atravessa mercados, percorre as montanhas dos Andes e deixa a vista espraiar-se pela estepe.
Rios, lagos, cascatas. Plantações de todas as cores e brilhos.
Gente ali ao lado, com uma barraquinha, que quase colide com o comboio, até crianças que se suspendem nas ruínas de uma casa, lá ao longe, e que acenam para os turistas.

Fica a sensação do quanto gostariam, também eles, de ter a mesma experiência.
Viajar, quebrar a solidão, descobrir o mundo para além do horizonte de todos os dias.

agricultores nos Andes
Agricultores nos Andes

São múltiplas as imagens, os sons, as cores.
O ponto comum é a ruralidade.  Tudo muito simples.
Casas baixas, de barro, com animais à solta.
Famílias cortam o milho, outras tomam conta do gado e, sempre, a ideia de solidão.
Há muitas crianças nas portas das casas, outras passeiam com os familiares e algumas andam no campo.

plantação de milho
Plantação de milho

Por vezes, a marcar o horizonte, vemos um vulto a andar calmamente. Nada mais, terra e vegetação rasteira.
São quilómetros e quilómetros de grandes espaços, pouco povoados e mulheres e homens a trabalhar a terra.

La Raya
La Raya

Parámos na La Raya, o ponto mais alto da viagem.
A altitude é de 4.319 metros. 
Estamos sensivelmente a meio da viagem. A pouco mais de 200 Km de Puno.
O lugar tem uma igreja e é o ponto de encontro para os locais tentarem ganhar algum dinheiro. Vendem roupas e artesanato.
A roupa até pode ajudar, porque o local é frio e seco.
As receitas da venda são partilhadas. O associativismo é uma prática usual no Peru.
Não muito distante, os cumes das montanhas estão vestidos do branco da neve e ainda não estamos na época fria.

Após a paragem em La Raya, seguiu-se o almoço.
Creme de espargos, frango e sobremesa. Ao longo da viagem ofereceram muitas bebidas e, pouco antes da chegada a Puno, ofereceram um snack. Tudo incluído no bilhete.

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O regresso a casa

O entardecer é feito no alte plano com horizontes largos e bucólicos.
Mais de uma hora com a mesma paisagem.
De repente entra-se num meio urbano, caótico. Cruzamentos com estradas de terra batida, com muitos carros e motas a aguardar a vez.
Praças com trânsito desordenado, camiões num descampado onde se vende tijolos….

mercado em Juliaca
Mercado em Juliaca

Num instante a linha férrea entra por um mercado. Invulgar e surpreendente.
Tendas e tendas onde se vende de tudo. Peças para automóveis, alfaias agrícolas, tecidos, frutas e vegetais, oficinas…
O comboio passa a um palmo das tendas.
Do vidro das carruagens olhamos quase de frente para as pessoas. Algumas acenam, outras têm um olhar distante e indiferente.

mercado em Juliaca
Mercado em Juliaca

O maquinista apita ininterruptamente e a venda continua. Estamos em Juliaca.
Muitos dos viajantes tiram fotografias, alguns foram apanhados desprevenidos e procuram a melhor perspectiva através das janelas, não tiveram tempo para se deslocarem para a carruagem panorâmica. É uma pena não avisarem.

Por fim, Puno.
Já é noite. 
O maquinista volta a apitar porque o comboio está a entrar na cidade.
A entrega da bagagem foi rápida. Tinha um motorista à minha espera. Percorremos a cidade e foi sempre a subir, sempre a subir.
O Hotel Mirador de Titikaka fica a 4 mil metros de altitude. Um pouco mais do que os 3.855 metros de Puno.
Volta o formigueiro, alguma arritmia e Jorge, o dono do hotel, diz que o chá de coca serena. Talvez.

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