Todas as ruínas são um espaço de memória. No caso do antigo Convento Velho de Penafirme tem a textura frágil de paredes de pedra que ganham novas formas ao longo do tempo, como também a muita areia que vai encobrindo a obra humana.
Uma paisagem sedutora e, simultaneamente, a perspetiva de uma vida inóspita dos frades eremitas descalços que construíram o convento em meados do século XVI.
Quem circula na estrada que liga Porto Novo a Póvoa de Penafirme, no concelho de Torres Vedras, muito próximo da praia de Santa Rita, depara-se com ruínas de uma construção em pedra que está a ser “engolida” por dunas.
Um longo arco revela a dimensão do antigo convento e de como era uma estrutura frágil com pedras de calcário sobrepostas.
O tempo veio confirmar que a origem dos nomes pode ser enganadora: “Penafirme significa rocha, penha ou lugar seguro”, conforme está escrito na cronologia do externato, a construção seguinte à deste convento.
Nos últimos anos é paragem obrigatória e, quase sempre, encontro outros visitantes no interior das ruínas com olhar de admiração.
Por outro lado, apesar da fragilidade, o conjunto virou fotografia. Sem alterações, congelado no tempo.
A escolha solitária dos frades eremitas
Retomo os dados que nos foram transmitidos por Paula Silva, que fez uma investigação sobre o Convento Velho de Penafirme e também sobre o de Nossa Senhora da Graça, em Torres Vedras, ambos pertencentes à Ordem de Santo Agostinho.
Os frades eram eremitas e deram preferência ao isolamento.
Na verdade, o primeiro registo da presença dos frades é do século XIII e era noutro edifício, do qual não há vestígios.
O Convento Velho de Penafirme é a segunda construção dos frades e surge na sequência de uma oferta de duas propriedades da Câmara de Torres Vedras ao frade de origem italiana Frei Gaibetino.
O objectivo era a comunidade religiosa fixar-se ali.
A construção começou em 1547 e o convento tinha capacidade para cerca de uma dúzia de frades.
Hoje, das ruínas que estão a ser engolidas pela areia, ainda se percebe parte do interior.
Através do testemunho de Paula Silva, percebemos melhor a estrutura que sobrevive: parte do muro do convento, parte da igreja, paredes da nave rectangular e de algumas dependências conventuais, como por exemplo, a sacristia, o claustro e as celas.
No século XVIII, o Convento já não tinha capacidade para mais elementos da Ordem que estava a crescer. Além do mais, o tremor de terra e o maremoto de 1755 acentuaram a degradação do edifício.
Nessa altura os frades preparavam a mudança para outro convento junto à Póvoa de Penafirme e reaproveitaram algum material do Convento Velho, o que acentuou a degradação.
O Convento na Póvoa de Penafirme foi entretanto adaptado a Externato e o Convento Velho está classificado como Imóvel de Interesse Público.