“O rio Erges é um dos últimos rios selvagens em Portugal” e vamos descobri-lo num roteiro entre Portugal e Espanha, com passagem por castelos, uma fronteira insólita e o monumental canhão fluvial.
O roteiro é circular, por estradas portuguesas e espanholas e há percursos pedestres para quem deseja uma experiência mais profunda.
Não propriamente descer o canhão fluvial porque tem mais de uma centena de metros de altura e é muito arriscado. Mas pode-se dar um mergulho numa praia fluvial, visitar centros históricos de aldeias seculares e terminar com um prato de “bacalao” nas Termas de Monfortinho, um ritual dos “nuestros hermanos”.
O Erges nasce em Espanha, na serra das Gatas (irmã gémea da serra da Malcata, associada aos linces) e faz de fronteira entre Portugal e Espanha num percurso de cerca de 50km, aproximadamente de Monfortinho a Rosmaninhal, onde se funde com o Tejo, no distrito de Castelo Branco.
Como podemos ler no estudo “Património Geológico de Salvaterra do Extremo”, da autoria de Joana de Castro Rodrigues, Carlos Neto de Carvalho e João Geraldes
“O Rio Erges, um dos últimos rios selvagens de Portugal, tem trechos de raro valor natural com particular destaque para a geodiversidade.
O seu vale encaixado permite descortinar as instruções para compreender a dinâmica da Terra nas suas etapas mais antigas em território que é hoje a Península Ibérica” e “evidências da passagem de gelos flutuantes numa bacia oceânica profunda que abrangeu esta área.” Na raia!
Canhão Fluvial do Erges
O Erges há cerca de três milhões de anos adaptou-se a novos leitos e a passagem por vales graníticos provocou uma erosão tão profunda que constitui uma das paisagens mais espetaculares entre Salvaterra do Extremo e Segura. Escarpas quase a pique e com mais de uma centena de metros de altura.
Os vales estreitos e escarpados formam o canhão fluvial.
Há percursos pedestres, com acesso relativamente fácil a pontos de observação das escarpas.
O mais acessível é na estrada próximo de Segura.
No alto de um monte vemos o campanário da igreja da aldeia. No outro monte, surge o vale que comprime o rio entre duas encostas escarpadas de granito.
As muitas aves – de grande porte – que sobrevoam o vale são indicadores da dificuldade do homem em chegar às vertentes quase verticais.
Muitas aves é aqui que nidificam. Podemos ver grifos, britangos, abutre-preto, águia-de-bonelli e a cegonha-preta. Algumas destas espécies estão em risco.
Ponte de Segura e Zarza la Maior
O caudal do rio Erges varia consoante a época das chuvas. Cada estação do ano tem uma faceta positiva e negativa que vamos descobrir mais à frente.
Com pouca água é fácil descobrir várias construções na margem do rio e descer em escadas de pedra, junto à ponte que faz a ligação entre Portugal e Espanha, a fronteira de Segura.
Descobrimos igualmente a falta de civismo de muitos visitantes com o lixo que deixam no local.
Em Espanha seguimos para Norte, em direção a Zarza la Maior.
Vale a pena uma visita ao centro histórico, em particular ao largo da igreja de Santo André sempre rodeada de cegonhas.
Outra vantagem é abastecer o carro de combustível, como fazem os portugueses de Salvaterra do Extremo.
Após Zarza la Maior surge uma dúvida: como regressar a Portugal? Depende do tempo, do humor do rio Erges.
Uma possibilidade é seguirmos em frente em direção a Moraleja e atravessamos a fronteira em Monfortinho.
A alternativa é tentarmos entrar na estrada que liga Zarza a Portugal. No verão, ou tempo de poucas chuvas, em princípio, não haverá problema porque a travessia da fronteira é num dique estreito!
Uma fronteira insólita: um dique
Se o caudal do rio Erges ultrapassar o dique, temos de voltar para trás.
A viagem vale a pena.
Em tempo quente, podemos aproveitar a praia fluvial que foi construída do lado espanhol. Outro interesse é a descoberta do castelo de Peñafiel (que já foi português).
Vigilante no topo das escarpas que abrem caminho ao rio e também para o monte do lado português, onde se avista Salvaterra do Extremo.
“A vila raiana que conta histórias de guerra e paz, merece uma visita tendo em conta o património histórico, em particular no largo da Praça, e o paisagístico.
Salvaterra fica próximo de Monfortinho onde podemos terminar o roteiro. A passear junto ao rio Erges, em zonas planas próximo das Termas e do Clube de Tiro ou repetir um ritual dos visitantes espanhóis: comer bacalao.
Mapas e orientações de como chegar.
Parte do percurso está inserido no Naturtejo.