No próximo fim de semana (20 de Maio) realiza-se nos Açores o primeiro bodo do Espírito Santo.

Desfile na Praia da Vitória, ilha Terceira  ©Turismo Praia da Vitória
Desfile na Praia da Vitória, ilha Terceira ©Turismo Praia da Vitória

É uma festa marcante da cultura açoriana e está espalhada pelos caminhos da emigração. Está de tal forma enraizada que mesmo em pequenas localidades juntam-se centenas de pessoas. Caso apareça há também o hábito de convidar os forasteiros.

É a manifestação de um modo de vida instável que procura apoio nas promessas ao Divino Espírito Santo e também um sinal de fraternidade com a oferta de comida, as Sopas do Espírito Santo, aos mais pobres.

Coroas na Graciosa
Coroas na Graciosa

Os rituais estão já a decorrer com a “semana da função”. Uma família tem as coroas do Espírito Santo em casa durante uma semana e reza-se o terço à noite com quem aparecer para pagar as promessas. A reza é junto ao altar onde está a coroa ou coroas do Espírito Santo.

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Filomena Menezes

Outras vezes vão apenas em visita e oferecem ovos, farinha e açúcar. Há quatro anos Filomena Menezes, nas Lajes, ilha Terceira, teve uma “semana da função” e retribuía com uma brindeira de massa.

O ritual varia muito de ilha para ilha e até entre várias freguesias. Na Praia da Vitória e nas Lajes nos primeiros sete domingos das festividades são os “imperadores” que organizam.

Império na Graciosa com as bandeiras a assinalar o cortejo
Império na Graciosa com as bandeiras a assinalar o cortejo

Na Graciosa, Duarte Silva foi este ano “irmão” do mordomo. Teve o Espírito Santo em casa e no domingo organizou um cortejo até à igreja, acompanhado da filarmónica e das bandeiras do império. Na igreja foi coroada uma criança e depois o ponto alto foi a refeição com as Sopas do Espírito Santo.

Bandeiras do cortejo na Graciosa
Bandeiras com as pombas brancas do cortejo na Graciosa

Os convidados estavam numa salão. Eram algumas dezenas e no meio estava uma repleta de comida com a Sopa do Espírito Santo. Habitualmente a refeição é ainda constituída com o cozido de vários tipos de carne, alcatra (carne de vaca cozinhada lentamente num vasilhame de barro), pão, arroz doce, rosquilhas….

Arroz doce com o desenho da coroa
Arroz doce com o desenho da coroa

Na ilha Terceira onde a tradição tem forte envolvência popular, faz ainda parte da gastronomia o Alfenim. É um doce branco feito de açúcar, água e vinagre. A maior parte tem a forma da pomba branca do Espírito Santo.
Em alguns lugares convidam-se os pobres a juntarem-se à mesa. Noutras localidade a oferta é feita no dia anterior. A dádiva aos pobres ou “desafortunados” tem nas Lajes o nome de “esmola branca”.

Terrina da Sopa do Espírito Santo
Terrina da Sopa do Espírito Santo

Em alguns locais, onde se segue a tradição, há um outro ritual antes do domingo de “função”. É o “dia do bezerro”. Os animais que vão ser mortos para a festa percorrem algumas ruas da povoação enfeitados com flores de papel.
No sexto e sétimo domingo após a Páscoa é a vez dos bodos. A dimensão é muito maior e as festas realizam-se em frente dos impérios.

Império na Ilha Terceira
Império na Ilha Terceira

Este é o edifício da irmandade. Tem a forma de uma capela muito pequena e frequentemente está próximo de uma igreja. Os impérios são uma expressão de arquitetura popular dos Açores e em algumas freguesias são muito coloridos e lugar de visitação de turistas.

Coroas no interior de um império
Coroas no interior de um império

Enquanto decorre o bodo é no interior dos impérios que se colocam as coroas e as bandeiras. No exterior o convívio é feito em volta da Sopa do Espírito Santo, muitas vezes servidas em terrinas próprias de cor branca. Abunda a carne, o pão e o vinho, produtos fortemente ligados à atividade agrícola das comunidades locais.

A coroa no topo de um império
A coroa no topo de um império

No último domingo são escolhidos os futuros mordomos, imperadores, irmãos ou outros nomes com que são designados os organizadores das festas seguintes. Habitualmente é através de sorteio (Pelouro) para a atribuição de cada domingo e as coroas aos “imperadores”. O primeiro a sair vai ficar com as insígnias do Espírito Santo em casa até serem retomados os rituais do ano seguinte.

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Coroas

As coroas são metálicas. Algumas são muito decoradas. As mais antigas eram mais simples mas ao mesmo tempo eram um exclusivo das famílias com posses. A utilização das coroas e a coroação das crianças nas igrejas encontra o seu significado na origem das festas em Portugal. Remontam ao século XIV.

Coroa antiga na Casa Vitorino Nemésio na Praia da Vitória
Coroa antiga na Casa Vitorino Nemésio na Praia da Vitória

No caso da coroa atribui-se à Rainha Santa Isabel que na partilha dos alimentos com os mais pobres colocou a coroa na cabeça de um deles enquanto decorria o ritual.
É à rainha que é atribuída a origem das festas do Espírito Santo em Portugal. Teve alguma expressão no Continente mas, com raras excepções, caiu em desuso. Foi levada para os Açores pelos franciscanos.

Império na ilha de S. Jorge
Império na ilha de S. Jorge

Em alguns casos, como por exemplo na Terceira ou S. Jorge, as festividades prolongam-se até ao Verão e são associados outros eventos que juntam centenas de pessoas oriundas de toda a ilha.
As Sopas do Espírito Santo faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e pode ouvir aqui.

O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:
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