Para quem gosta de arte contemporânea é imperdoável desconhecer o Museu da Tapeçaria de Portalegre. Como é igualmente injusto o Museu não ter maior relevo a nível nacional porque tem obras magnificas de alguns dos mais reputados pintores nacionais e estrangeiros.
Até Maio do próximo ano estão expostas tapeçarias de Almada Negreiros, Vieira da Silva, Carlos Botelho, Júlio Pomar e Eduardo Nery.
São peças de arte deslumbrantes, algumas de tamanho muito grande e quase todas peças únicas. São produzidas na Manufactura de Tapeçarias de Portalegre a partir de um original feito por um artista plástico. É um trabalho demorado e complexo.
O ponto de partida é um desenho do pintor, é depois ampliado e mais tarde reproduzido pelas tecedeiras.
O trabalho é todo manual e a matéria prima é a lã com uma paleta de mais de 7 mil cores. A arte exige muita paciência e saber. Por exemplo, as tecedeiras têm formação mais prolongada do que uma licenciatura.
O resultado final na generalidade das tapeçarias é uma grande variedade de cores, tonalidades que se alteram gradualmente. É aliás frequente, conforme testemunha Hélder Faria, técnico do Museu, que alguns pintores gostam mais da tapeçaria do que do trabalho original que eles produziram. Ele próprio, que já conhece muitas peças da Manufactura, tem um fascínio especial por algumas obras.
Uma delas é de Vieira da Silva. É a Biblioteca e “é o trabalho mais complexo que o museu tem exposto”. Outra peça de arte que destaca é de João Tavares, a Proclamação da Independência.
O trabalho de João Tavares é de 1947 e foi a primeira tapeçaria da Manufactura feita com o ponto inventado pelo engenheiro têxtil Manuel do Carmo Peixeiro.
A inovação aliou-se ao empreendedorismo de Guy Fino.
Com a colaboração de vários pintores nacionais a empresa ganhou reputação internacional. Por exemplo, Júlio Pomar no segundo ano da Manufactura já estava a produzir a tapeçaria “Bela Aurora”.
A França e a Bélgica dominavam o mercado das tapeçarias de arte e a Manufactura de Portalegre conseguiu adquirir estatuto igual.
Até superior, na opinião do artista francês Jean Lurçat que teve papel relevante no renascimento da tapeçaria contemporânea e que até ao final da sua vida encomendou as suas tapeçarias em Portalegre.
Hoje em dia é também por encomenda a maioria das peças produzidas.
Nestes 70 anos de actividade a Manufactura de Tapeçarias de Portalegre já produziu obras de mais de duas centenas de pintores nacionais e estrangeiros. São tapeçarias com séries limitadas de 1, 4 ou 8 exemplares. São produzidas apenas nas instalações da empresa. O saber fica fechado. As tecedeiras não podem utilizar as técnicas que aprenderam no exterior. Nem para produção para casa, família ou amigos.
Um dos pisos do museu ilustra a história e a componente técnica da Tapeçaria de Portalegre. Também podemos ver a arte dos pintores projectada em desenhos ou cartões quando estamos habituados a vê-la em tela. Em simultâneo percebemos o empenho de muitos artistas plásticos consagrados que se exprimiram em vários suportes e que apostaram também na tapeçaria como forma de arte.
A carta de Almada Negreiros a solicitar cartões das tapeçarias para expor na Bienal de S. Paulo são exemplos disso. Almada produziu para tapeçaria várias obras e algumas das que mais se destacam são de grandes dimensões. É o caso das tapeçarias para o Tribunal de Contas e para o Hotel Ritz, em Lisboa.
Outra obra maior de Almada Negreiros, feita já após a sua morte, é o tríptico da Gare Marítima da Rocha Conde de Óbidos que pode ver na exposição. O tríptico começou a ser preparado nos anos 70 do século passado mas apenas foi finalizado nos anos 90, após encomenda da Fundação Calouste Gulbenkian.
O surpreendente Museu da Tapeçaria de Portalegre faz parte do podcast semanal da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
A emissão deste episódio, O surpreendente Museu da Tapeçaria de Portalegre, pode ouvir aqui.