Não pense que por estar no Museu do Relógio sabe bem que horas são. Pelo contrário.
São cerca de dois mil relógios, estão todos a funcionar, mas propositadamente estão desacertados.
O motivo é evitar que toquem todos ao mesmo tempo. Assim temos o prazer de ouvir a sonoridade de cada um. Além do mais, há relógios que tocam também nas meias horas e os carrilhões de 15 em 15 minutos. Seria uma cacofonia estridente.
Os relógios pertencem a uma coleção privada iniciada por António Tavares de Almeida.
Tudo começou quando recebeu três relógios de bolso que eram dos avós. Mandou reparar os aparelho em mestres relojoeiros e apaixonou-se de tal forma que a coleção reúne 2.600 relógios.
Dois mil estão em exposição no Museu do Relógio que está sediado no Convento do Mosteirinho, no centro histórico de Serpa – o edifício é do séc. XVI. Os restantes aparelhos, cerca de 600, estão no pólo de Évora, no Palácio do Barrocal.
Um elemento comum a toda a coleção é o mecanismo mecânico de todos os relógios. O que também implica uma tarefa que é dar corda aos dois mil relógios.
Todos os relógios com corda que estão nas paredes e mesas têm autonomia para oito dias e os funcionários dão corda uma vez por semana. Aos restantes dão seis a sete vezes por ano para lubrificar o mecanismo.
Ao longo das várias salas do museu os nossos olhos espantam-se com a diversidade e a arte de muitos relógios. Há para todos os gostos e imaginação. A coleção faz a história de uma verdadeira simbiose entre o engenho e a arte.
A peça mais antiga e também a de maior valor é um relógio de 1630. Veio para Portugal pelas mãos dos ingleses quando das invasões francesas.
Toca de 15 em 15 minutos e Edward East, o relojoeiro que trabalhava exclusivamente para o rei e a corte inglesa, só produziu dois exemplares. Um é o que está no museu e deverá ser único porque é desconhecido o paradeiro do outro.
Uma coleção singular
António Tavares de Almeida utilizou a sua antiga habitação para instalar o museu que abriu as portas em 1995. É o único museu de relógios na Península Ibérica e só há mais quatro em todo o mundo.
António Tavares de Almeida faleceu em 2012 e o seu filho, também um apaixonado pelo relojoaria, dirige o museu.
Todo o projecto é de financiamento privado e uma das principais fontes de receita é a oficina de restauro. Seis mestres relojoeiros trabalham para o museu e reparam também relógios de outras pessoas. Há uma grande procura de colecionadores estrangeiros. Os relojoeiros trabalham nas suas próprias oficinas mas há uma sala onde estão expostos os instrumentos que fazem com que após uma reparação não sobre nenhuma peça.
Dois mil relógios a dar horas em Serpa faz parte do podcast semanal da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
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