O aqueduto da Gargantada “dá nas vistas” à entrada da Amadora mas é obrigatório descobrir o ponto de partida, em Belas. Pelo enredo “hidráulico”. Em primeiro lugar a estrada chama-se das “Águas Livres”. Depois, o roteiro é aparentemente simples, seguir o aqueduto da Gargantada até ao Palácio de Queluz, mas é muito enganador.
Encontramos um reservatório em pedra, com uma cobertura arredondada e bem preservada apesar da idade. Tem o nome de Mãe de Água Velha. Do outro lado da estrada encontra-se outro reservatório em pedra que revela igualmente robustez. Pouco depois, vemos um canal de pedra a acompanhar a estrada. Só que, não temos um, mas três aquedutos. O que é visível é o das Águas Livres. A construção destaca-se à beira da estrada e depois nas encostas do vale de Carenque. “O mais antigo é o aqueduto romano. Vinha dessa zona onde aproveitavam as minas e seguia até à Quinta da Bolacha, onde há ruínas romanas.”
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Ainda na explicação de António Moreira, historiador e antigo vereador de Cultura da Câmara da Amadora, o aqueduto da Gargantada acompanha o aqueduto das Águas Livres. No entanto, enquanto o das Águas Livres sobressai na encosta da serra ou é absorvido no meio do casario e quintais, o aqueduto da Gargantada corre maioritariamente em troços subterrâneos e “chega aterrado até à rua Elias Garcia, na entrada da Amadora. Depois atravessa a ribeira de Carenque e segue para o quartel em Queluz.”
É na entrada da Amadora que é mais visível com 14 arcos de volta perfeita. “Dois arcos foram destruídos, passavam sobre a Elias Garcia, já na fase final da rua. Depois, no local onde atravessa a ribeira tem 14 arcos visíveis mais um rebatido, antes de voltar a ser enterrado.”
A arcaria não se deixa ofuscar pelos prédios. Ganha realce e beleza. É verdade que a construção é mais rústica do que o das Águas Livres, mas tem também apontamentos arquitetónicos interessantes como a linha dos arcos que faz um ângulo como se estivesse a desviar dos prédios e a ganhar fôlego para atravessar a ribeira de Carenque. “Faz um ângulo. Mas não é o único.
O de Queluz também faz um ângulo e tem maior imponência. Esse também abastece o Palácio.” Ainda na opinião de António Moreira “o aqueduto da Ponte de Pedrinha tem mais monumentalidade. Passa junto ao mercado de Queluz. Vem do rio Jamor.” O espaço urbano em Queluz é diferente. Há um amplo jardim em frente que acompanha o rio Jamor e o aqueduto da Ponte de Pedrinha faz um ângulo acentuado, como se estivesse a desviar da rotunda rodoviária.
A confluência de aquedutos para o Palácio de Queluz significava que estava bem abastecido de água. “O Palácio e as cavalariças. O Palácio já tinha um aqueduto próprio. O da Gargantada é acrescentado às necessidades do Palácio, em particular para as cavalariças reais e também para o antigo aglomerado populacional que estava junto do atual quartel.”
O aqueduto da Gargantada foi construído entre 1790 e 1794. “A ordem de construção é do príncipe D. João, futuro D. João VI. Ele tinha as minas de água de Carenque e do Pocinho e decidiu reforçar o abastecimento de água canalizada para o Palácio de Queluz, mais concretamente para as cavalariças reais. Onde hoje está o quartel de Artilharia Antiaérea.”
Devido à abundância de água o aqueduto da Gargantada foi melhorado no início do século XIX mas, por falta de limpeza, alguns anos depois deixou de ser utilizado. Para a região da Amadora não constituiu grande preocupação.“A Amadora teve sempre muita água. Nesta zona onde estamos (próximo da estação de caminhos de ferro) quase todas as casas tinham poços próprios. O que dá o nome a esta freguesia, da Mina de Água, é a existência de uma mina, muito próximo, de abastecimento de água. Água era coisa que não faltava” concluiu António Moreira.
O aqueduto da Gargantada está classificado como Imóvel de Interesse Público. Se for descobrir a estrada das Águas Livres, dê um salto ao alto da encosta para ver a Necrópole de Carenque e uma excelente vista até Sintra.
Uma Gargantada de aquedutos faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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