Os objetos em junco estão a ganhar novas formas e design num esforço de revitalização.
Este tipo de artesanato ficou na memória de muitos através das esteiras e das ceiras muito coloridas. Vermelho ou verde. Curiosamente estas duas memórias remetem para espaços e usos bem diferentes. As ceiras para o espaço mais rural, campestre. Bem diferente foi o uso das esteiras que era frequente servirem como toalha de praia.
O material é ecológico, manufaturado em teares por artesãos, no entanto, este tipo de artesanato corre o risco de desaparecer: “está, de certa forma, em vias de extinção porque não há renovação, não há novos artesãos. A continuar assim, vai acabar.”
O alerta é de Eurico Leonardo, responsável da Coz Arte, um projeto de empreendedorismo social que procura revitalizar este tipo de artesanato com forte implantação no lugar de Castanheira, freguesia de Coz, no concelho de Alcobaça.
Uma das iniciativas do projeto é mostrar alguns exemplares e o modo como se faz num tear. É na Adega das Monjas, mesmo em frente do Mosteiro de Santa Maria de Coz. “Neste momento, tanto quanto sei, é o único local onde é possível ver e, inclusive, fazer, meter as mãos no junco e no tear.”
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Eurico Leonardo está empenhado em manter a tradição e diz que o espaço em Coz tem o propósito de “divulgar esta arte. Queremos que as pessoas descubram, experimentem e nós damos sempre essa possibilidade a quem manifesta essa vontade. O propósito é chamar a atenção para este tipo de artesanato. Se não tivermos este tipo de ação, eu penso que mais rapidamente vai acabar”.
O próprio Eurico Leonardo pode mostrar como se faz porque, desde miúdo, aprendeu a técnica com a mãe. “Foi uma das mulheres que dedicou toda a sua vida à produção deste tipo de artesanato. Aprendi com ela. Para além do trabalho com as visitas guiadas ao Mosteiro de Coz sou o coordenador do projeto Coz’Arte e também sou formador.”
Neste espaço estão algumas dezenas de objetos feitos em junco com design moderno. Mochilas, ninhos de pássaros, porta garrafas, entre outros. Eurico Leonardo explica que estão a apostar num novo conceito, “no desenvolvimento de novos produtos através da mesma técnica, do mesmo conhecimento do passado. Estamos a aplicar tudo isso em objetos diferentes. São produtos novos, com novos conceitos e nova imagem. O objetivo é chamar alguém que veja a potencialidade que tem este tipo de trabalho.” Alguém que dê continuidade….
Os novos produtos e o design moderno resultam de uma parceria com a Escola de Artes das Caldas da Rainha que envolveu cerca de 30 alunos da licenciatura em Design de Produto. “O que está a acontecer é a componente criativa. Temos uma parceria com algum trabalho feito. Eu estive com eles um semestre a ajudá-los a desenvolver trabalhos que depois resultou numa exposição muito bela.”
Eurico Leonardo salienta igualmente a abertura de perspetiva que a criatividade dos jovens propiciou. “A nível das mentalidades, foi muito importante porque até então, tudo o que se fazia funcionava à base do cesto. Com este projeto houve uma lufada de ar fresco. A maioria dos jovens produziu objetos que para nós seriam improváveis. Tudo isto ajudou a mudar a mentalidade das pessoas e hoje em dia já se olha para este conceito, este tipo de arte, de forma diferente. Penso que esta atividade terá de passar muito pela criação de novos produtos.”
A esperança de Eurico Leonardo, à semelhança de outras experiências recentes na região, é a revitalizar uma atividade com, pelo menos, século e meio de história. “Costumo dizer que a freguesia d Coz, e em particular no lugar onde resido, na Castanheira, nunca houve fome. Se houve foi muito pouca. Porque as senhoras para além da vida doméstica e também da atividade agrícola que desenvolviam, quando lhes sobrava tempo, tinham um ter em casa e desenvolviam este tipo de artesanato.” Eurico Leonardo fez acrescenta que há testemunhos desta arte “aqui na freguesia há pelo menos 150 anos.
Na Castanheira havia três ou quatro famílias que se dedicavam exclusivamente a este tipo de artesanato. Produziam e vendiam nos mercados, nas lojas e por todo o país. Foi também o início, há cerca de 50 a 60 anos, da exportação, nomeadamente para Espanha. Durante vários anos forma muitos cestos para Espanha.”
Os artesãos ganhavam à peça, o objetivo era a quantidade de produção. As alcofas ou ceiras eram a base da produção. “No passado também, se fizeram, por exemplo, encostos para os bancos dos automóveis, as carpetes, a esteira no sentido de ser utilizada como toalha de praia, as passadeiras… Hoje em dia há muitas poucas pessoas que conseguem fazer, por exemplo, as carpetes que exige uma técnica mais apurada.”
As alcofas coloridas, muito uteis para piqueniques e retratada por pintores com as mulheres a fazerem o transporte em cima da cabeça, também encontramos na antiga Adega das Monjas. Ao lado está o Pão de ló de Coz, cuja origem Eurico Leonardo lhe pode contar numa visita guiada à deslumbrante igreja do Mosteiro de Santa Maria de Coz.
Artesanato de junco de Coz faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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