Em Trás os Montes e parte da Beira Alta, entre os rios Côa e Águeda, há centenas de pombais espalhados na paisagem da vinha, da amendoeira ou do olival.

São construções de pequena dimensão. Sobressaem porque estão pintados de branco, são circulares e encontram-se isolados.

Almendra
Almendra

Os pombais destacam-se em particular no meio das vinhas devido à cor branca e também por serem circulares, “É a forma mais fácil de construir  com pedaços de pedra relativamente pequenas. Utilizando essas pedras, com as mesmas técnicas que se fazem os muros de pedra seca, conseguiram construir os pombais com a forma circular e uma estrutura consistente. Outro apontamento arquitetónico são os beirais que impedem a ascensão dos roedores.”

Marco Ferraz

A explicação é de Marco Ferraz, membro da Associação Transumância e Natureza, ATN que em parceria com a Palombar estão a recuperar alguns pombais.
Para quem visita estas regiões rapidamente nota a frequência com que os pombais  surgem na paisagem, mesmo não sabendo do que se trata.
São uma marca no património rural e desempenham uma outra função: têm uma importância relevante no equilíbrio do ecossistema de aves selvagens, nomeadamente de rapina.
Este é um dos motivos porque a ATN e a Palombar desenvolvem iniciativas para “dar vida aos pombais. Reconstruir, pintar as estruturas e reintroduzir pombas. O objetivo é aumentar recursos alimentares para abundância de espécies presa. A Associação Transumância e Natureza é responsável pela gestão de alguns pombais nesta região. A Palombar faz a gestão mais a norte da Região de Trás os Montes. Em conjunto conseguimos manter estas estruturas vivas que são muito importantes do ponto de vista do património cultural e também da vitalidade do património natural.”

A Palombar, uma expressão em Mirandês que significa pombal, iniciou o projeto em 2002 e em 2007 recuperou e zela pelo funcionamento de cinco pombais no nordeste transmontano. No Verão promovem projetos de voluntariado e uma das iniciativas é a recuperação do pombal tradicional.
A fase inicial, provocar a habituação das pombas, exige alguma persistência. “Há uma habituação. Os pombos ficam fechados e são alimentados. Ambientam-se à própria casa. Depois, abrem-se as portas, eles procuram alimentos e regressam. O processo de habituação demora algumas semanas para depois poderem estar em liberdade.”

Vesúvio
Vesúvio

Algumas décadas atrás o ecossistema era autossustentado. Antes do êxodo rural na década de 60 muitas destas terras eram cultivadas com cereais, a ceifa era manual e durava muito tempo. “No final restava muito cereal que era aproveitado pelas pombas. Era um processo quase autossustentado e fácil de gerir porque não exigia recursos nem tempo para os donos. Em contrapartida, os pombos ofereciam alimentação e adubação.”
As sementes deixadas na terra eram aproveitadas pelas pombas, era gerado alimento para perdizes, coelhos… e para as aves selvagens, nomeadamente rapinas. “Este ciclo originava abundância de comida… e o ecossistema estava em equilíbrio”.

As populações também tiravam partido dos pombais na alimentação. “Numa altura de escassez de alimentos eram consumidos os pombos, os borrachos (as crias) e os ovos. O dono ia lá à noite, fechava a porta de entrada das aves e fazia o “assalto” para adquirir o alimento.”

Outro aproveitamento era para adubo. “O resultado da acumulação de excrementos dos pombos, que é denominado pombinho, é um fertilizante muito rico em nitratos e isso era um elemento muito importante para a agricultura.” Este é um dos motivos porque encontramos muitos pombais em lugares remotos.
Alguns foram recuperados, pintados de branco, e são marcas de um património rural que sofreu uma profunda alteração nas últimas décadas.

Pombais: “o verdadeiro marco paisagístico de Riba-Côa a Trás-os-Montes” faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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